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foram tomadas várias decisões quanto à
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mantida de acordo com o original. No final deste livro
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Rita
Farinha (Nov. 2008)
BIBLIOTHECA
DE
Classicos Portuguezes
Proprietario e fundador
MELLO D'AZEVEDO
Bibliotheca de Classicos
Portuguezes
Proprietario e fundador―Mello
d'Azevedo
(VOLUME LIII)
CHRONICA
DE
EL-REI D. SANCHO II
POR
RUY DE PINA
ESCRIPTORIO
147―Rua
dos Retrozeiros―147
LISBOA
1906
CHRONICA
DO MUITO ALTO, E MUITO ESCLARECIDO PRINCIPE
D. SANCHO II.
QUARTO REY DE PORTUGAL,
COMPOSTA
POR RUY DE PINA,
Fidalgo da Casa Real, e Chronista Môr do Reyno.
FIELMENTE COPIADA DE SEU ORIGINAL,
Que se conserva no Archivo Real da Torre do Tombo.
OFFERECIDA
Á MAGESTADE SEMPRE AUGUSTA DELREY
D. JOAÕ O V.
NOSSO SENHOR
LISBOA OCCIDENTAL.
Na Officina FERREYRIANA.
M.DCC.XXVIII.
Com todas as licenças
necessarias.
SENHOR
As desgraças do infelicissimo Rei D. Sancho II deste nome
só se podem dalgum modo fazer menos sensiveis vendo-se
amparada esta sua brevissima Chronica com o Augusto nome de V.
Magestade se entre tantos infortunios quantos foram os que tem padecido
a posteridade da sua fama, póde haver algum genero de
diminuição, foi a
brevidade, com que todos os Historiadores trataram as
acções
da sua vida, porque até parece que enfastia a memoria das
infelicidades. Mas como é tanto o esplendor das inimitaveis
acções de V. Magestade,
bastará a sua protecção Real para que
retrocedendo tres
seculos encha de gloria aquelle Reinado. A Real Pessoa de V. Magestade
guarde Deos muitos annos como todos os seus vassallos dezejamos.
Miguel Lopes Ferreira.
AO EXCELLENTISSIMO SENHOR
D. Francisco Xavier de Menezes
Quarto conde da Ericeira, do Concelho
de Sua
Magestade, Sargento mór de Batalha dos seus Exercitos,
Deputado da Junta dos Tres Estados, Perpetuo Senhor da Villa da
Ericeira, e Senhor da de Ancião, oitavo Senhor da Caza do
Louriçal,
Commendador das Commendas de Santa Christina de Sarzedello, de S.
Cipriano de Angueyra, S. Martinho de Frazão, S. Payo de
Fragoas, de S. Pedro de Elvas, e de S. Bertholameu de
Covilhã todas na Ordem de Christo, Academico da Academia
Real da Historia Portugueza, e um dos cinco Censores della &c.
A benignidade com que
V. Excellencia desculpou a minha
confiança quando procurei o seu amparo para offerecer a Sua
Magestade a Chronica del-Rei Dom Affonso III me anima agora a buscar
segunda vez a V. Excellencia, para que me faça a
mercê de pôr aos pés
del-Rei N. Senhor esta
[9]
Chronica de D. Sancho II
de Portugal. Na pessoa de V. Excellencia concorrem todas as
circunstancias, que são necessarias para este beneficio,
porque V.
Excellencia é dotado de uma condição
tão propensa para os estudiosos, que a immensa copia de
livros, que com singular eleição tem juntos, mais
são
dos que delles se querem servir, que de V. Excellencia mesmo.
É verdade que esta generosidade tem o seu principio na
estopenda memoria de que V. Excellencia é dotado, pois basta
ler um livro, para lhe escuzar outra vez a lição,
mas tambem nace da particular
satisfação que V. Excellencia tem de que todos
sejam imitadores dos seus estudos. A ninguem melhor do que a V.
Excellencia se devia dedicar esta Chronica, porque só V.
Excellencia tem meios na sua grande capacidade para defender algumas
materias, que nella se tratam, porque é certo que nem tudo
foi concedido a todos, mas na pessoa de V. Excellencia se acha tudo o
que dividido fez grandes a outros. Deos guarde a V. Excellencia muitos
annos.
Criado de Vossa
Excellencia
Miguel Lopes Ferreira
PROLOGO
Aqui tens Amigo
Leitor a brevissima Chronica do desgraçado
Rei de Portugal D. Sancho II deste nome. Foi este Principe na vida, e
na morte o exemplo de toda a infelicidade humana, para que depois pelos
inscrutaveis juizos de Deos tivesse o premio de tantos infurtunios na
eternidade da
Bemaventurança. Na vida foi como dizem, tão
sogeito aos validos, que não teve
acção, que se
podesse chamar sua, e na morte, foi tão infeliz, que a
não teve
na Patria. Tudo o que escreveram os Authores, foi duvidoso, porque uns
o fazem cazado, e outros lhe negam o cazamento; uns o fazem pusilanime,
e outros valeroso. Seguiram as penas dos Chronistas a inconstancia da
sua fortuna, tudo deixáram em questões, porque
o seu descuido lhes não deixou averiguar a certeza do que
escreviam. O Doutor Fr. Antonio Brandão na Quarta parte da
Monarchia Lusitana desaggrava em muitas acções a
este Principe das injurias dos
[11]
seus Chronistas, mostrando que fora
valeroso, e que conquistara muitas Praças aos Mouros, como o
dizem as doações que fez dellas ás
Ordens
Militares. Sem duvida que a administração do
governo, que deram os povos a seu irmão D. Affonso Conde de
Bolonha em França, foi a cauza do muito que tem padecido a
Real opinião deste Principe, porque não ha quem
senão atreva a um desgraçado, ainda que lhe anime
as veas um sangue soberano. As parcialidades que naquelle tempo havia
de introduzir necessariamente na Corte a politica, deviam de ser o
fundamento desta variedade, porque uns para justificarem a
acção, o deviam de condenar, e outros que seriam
os menos, o haviam de desculpar. Venceo com o tempo a felicidade de seu
irmão D. Affonso, e arrastada da lizonja gemeo a memoria de
D. Sancho. O que escreveram os antigos, é o que agora te dou
a ler nesta brevissima Chronica. Se quizeres ver resgatada de tanto
descuido a fama deste piissimo Rei, vê o Mestre
Brandão, que em tudo
mostrou a sua diligencia.
Vale.
LICENÇAS
DO
SANTO OFFICIO
Approvação do
Reverendissimo
Padre Mestre D. Antonio Caetano de Souza, Clerigo Regular da Divina
Providencia, Qualificador do Santo Officio, e Academico da Academia
Real da Historia Portugueza
EMINENTÍSSIMO SENHOR
Vi a Chronica de El-Rei D. Sancho o II, a quem os nossos Authores
antigos chamam o Capelo, que tambem anda em nome do Chronista Ruy de
Pina, como já disse na censura que fiz na de El-Rei D.
Affonso II, seu pai, e não contem couza alguma para que V.
Eminencia não conceda a licença que se pede para
a imprimirem, este é o meu parecer. Lisboa Occidental 8 de
Março de 1726.
D. Antonio Caetano de
Souza C. R.
Approvação do
Reverendissimo
Padre Mestre Fr. Vicente das Chagas, Religioso da Provincia de Santo
Antonio dos Capuchos, Lente jubilado na sagrada Theologia, Qualificador
do Santo Officio, &c.
EMINENTISSIMO SENHOR
A Chronica d'El-Rei Dom Sancho o II a quem os Authores antigos chamam o
Capelo, pelos vestidos honestos, de que sempre uzou, mais de
feição de Religioso, que de Rei, não
tem cousa que se oponha aos dogmas da nossa Santa Fé, ou
bons costumes. Este Rei não teve exercicio de reinar todo o
tempo de sua vida, porque pelos seus erros foi posto por Regedor no
Reino seu irmão o Infante D. Affonso Conde de Bolonha, e
errou o dito Rei D. Sancho se cuidou que havia de reger sempre:
«Errat, si quis existimat tutum diu esse Regem».
Diz Seneca «In sui
Proverbiis in fine positis lit. E.» Mas se lhe tiraram o
Reino, ou a regencia delle pelos seus erros, e culpas, não
lhe podiam tirar o Reinar em o Ceo, morrendo (como dizem morreo) com
sinaes de bom Christão, e Catholico Rei, e cheio de
virtudes. Pelo que merece a licença que pede o Chronista
para se imprimir. V. Eminencia fará o que for servido. Santo
Antonio dos Capuchos de Lisboa Occidental 21 de Março de
1726.
Fr. Vicente das Chagas.
[14]
Vistas as
informações, pode-se imprimir a
Chronica del-Rei D. Sancho II, e depois de impressa tornará
para se conferir, e dar licença que corra, sem a qual
não correrá. Lisboa Occidental,
22 de Março de 1726.
Rocha, Fr. Lancastre.
Teixeira. Silva.
Cabedo.
DO ORDINARIO
Approvação do
Reverendissimo
Padre Mestre Fr. João Baptista Troyano, Religioso da Ordem
de N. Senhora do Monte do Carmo, Mestre na Sagrada
Theologia,
Consultor do Santo Officio, Definidor perpetuo, e
Provincial absoluto, Secretario que foi da Provincia, e Prior do
convento do Carmo de Lisboa Occidental, &c.
ILLUSTRISSIMO E REVERENDISSIMO SENHOR
Por mandado de V.
Illustrissima Reverendissima li a Chronica del-Rei D.
Sancho II no Nome, e quarto dos Reis de Portugal, vulgarmente chamado
Capelo, na fórma que a deixou escrita Ruy de Pina Chronista
mór do Reino, e como nella se
não encontre couza que se opponha aos dogmas da nossa Santa
Fé Catholica, ou bons costumes, julgo se lhe póde
conceder a licença que se pede, salvo,
&c. Carmo de Lisboa Occidental 4 de Outubro de 1726.
Fr. João
Baptista Troyano, Prior do
Carmo.
Pode-se imprimir
vistas as
informações, a Chronica del-Rei D. Sancho II, e
depois de impressa tornará para se conferir, e dar
licença sem a qual não correrá. Lisboa
Occidental 1 de Junho de
1728.
Gouvea.
DO PAÇO.
Approvação do
Excellentissimo
Senhor D. Francisco Xavier de Menezes, Conde da Ericeira, do Conselho
de S. Magestade, Academico da Academia Real da Historia Portugueza, e
um dos cinco Censores della, &c.
SENHOR
Na censura
que fiz
por ordem de V. Magestade
á Chronica del-Rei D. Sebastião, ponderei
largamente o juizo que fazia da utilidade que resultava á
Historia de Portugal, de que se publicassem as memorias mais antigas,
que se conservavam manuscritas na Torre do Tombo, e em muitas
livrarias, ainda que tivessem alguns defeitos, que nasceram da sincera
credulidade dos seus Authores,
outros
da corrupção das copias, e muitos
que os modernos suppõem,
[17]
que foram erros, e que póde ser sejam
verdades, e que prevaleça a antiguidade de alguns seculos,
que faz os Authores melhor instruidos de tradição
sucessiva, e então mais vezinha ao tempo dos sucessos;
á critica que fundada em documentos, e conjecturas, nem
sempre descobre as dezejadas demonstrações. A
Chronica del-Rei D. Sancho II sendo muito breve, merece maior exame,
que as outras, porque era precizo ao seu escritor defender o que fez
todo o Reino para autorizar a deposição daquelle
Principe mais
infelice, que culpado, e quanto mais razões buscou este
escritor para culpar o seu Rei, tanto mais seguio a primeira errada
maxima, continuada por muitos Historiadores, que se convencem a si
mesmos com a força da razão, celebrando a
fidelidade dos dous valerosos defensores
de Coimbra, e Cerolico. Tambem se buscaram outros principios, que as
Monarchias independentes, como é a de Portugal
não admitem, nem acho
inconveniente em que se imprimam as Historias do que o mundo fazia, e
hoje não observa, porque assim conhecemos o genio dos
seculos passados, e a parcialidade dos nossos Chronistas; sendo poucos
em todas as
nações, os que se livraram deste perigo, e
não sendo o mesmo permetir V. Magestade a licença
que se pede para sahirem a luz os livros antigos, que aprovar tudo o
que elles dizem, e copiáram os outros, que o seguiram, e
assim entendo que com esta censura que deve imprimir-se nas mais
Edições desta Chronica,
se dê a faculdade que pertende o seu curioso Collector,
desta, e de todas as Historias antigas de Portugal. Lisboa Occidental 7
de Junho de 1728.
Conde da Ericeira.
[18]
Que se possa
imprimir, visto as licenças do Santo Officio, e
Ordinario, e depois de impresso tornará á Meza,
para se conferir, e taxar, e sem isso não
correrá, com
declaração, que no mesmo livro se imprima esta
censura do Conde da Ericeira. Lisboa Occidental 8 de Junho de 1728.
Marquez P. Pereira.
Oliveira. Teixeira.
Bonicho.
Coronica do muito alto e esclarecido Principe D.
Sancho II,
quarto Rei de Portugal a que vulgarmente chamavam o Capelo
CAPITULO I
Como o Ifante D. Sancho Capelo, foi
alevantado por Rei, e
das condições fracas que teve, e como
cazou, e não como a sua honra e estado Real compria, e se
devia
El-Rei Dom Affonso
deste nome o
segundo, e dos Reis de Portugal o
terceiro, faleceo na era de mil duzentos e vinte e tres, (1223) como em
sua Coronica é declarado, e por seu falecimento foi logo
alevantado, e obedecido por Rei o Ifante Dom Sancho, seu filho maior
legitimo, e herdeiro, a que disseram Capelo, deste nome o segundo, e
dos Reis de Portugal o quarto, em idade de dezaseis annos, e a cauza
porque este sobrenome de Capelo lhe fosse posto, as
lembranças antigas Despanha, e de Portugal, que delle falam,
e assi o nomeam, não o declaram, sómente que lhe
devia ser posto por sua maneira
[20]
de vestidos honestos, que sempre trouxe, mais de
feição de Religioso, que de Rei, nem Cavaleiro,
porque foi Principe, que do começo de sua vida
até que acabou em servir mais a Deos, que haver respeito
ás couzas, e pompas do mundo, em cujo
coração
não houve a verdadeira fortaleza que pera Rei era mui
necessaria, mas houve nelle sua pura simpreza com que dezejou que seus
Reinos, e Vassalos fossem regidos por lei de natureza, e por regras, e
concelhos de boa condição, sem outra prema, nem
contradição de Lei, nem de algum direito
positivo, e por esso na
execução nas cousas da justiça era
muito brando, e as não provia nem ponia, com aquelle rigor,
e escarmento, que as culpas, e crimes de homens requeriam, e por esta
sua natural, e fraca incrinação, e
juntamente com os máos, e desassolutos Conselheiros, que de
moço
logo o recolheram, e porque não devidamente se regia o Reino
de Portugal, e todolos naturaes delle em todalas couzas, assi
espirituaes, como temporaes, durando o seu Reinado padeceram muitas
perdas, e danos incomportaveis, que depois com quebra de seu nome, e
pera provizão de seu Estado se remediaram, como ao diante se
dirá.
E ao tempo que este Rei Dom Sancho começou de Reinar em
Portugal, governava os Reinos de Castella, e de Lião sua
tia, a Rainha Dona Biringela, molher que foi del-Rei Dom Affonso de
Lião, com El-Rei Dom Fernando seu filho, a qual era tia
deste Rei Dom Sancho, irmã da Rainha Dona Orraca sua madre,
e porque a Rainha Dona Biringela, a que este Rei Dom Sancho ficou
encomendado, era Princeza de mui singulares virtudes e Reaes
perfeições, e
muita prudenia, doendo-se da
governança de Portugal, e de uma evidente sua
perdição, a que decrinava, ella
muitas vezes enviou a conselhar a seu sobrinho assi bem,
[21]
e verdadeiramente como a elle, e ao Reino compria, e
principalmente pera fundamento de sua maior liança de o
querer cazar, como seu Estado, e dinidade Real requeria. Ao que El Rei
D. Sancho por máos concelhos dalguns seus não
fieis, e danados conselheiros nunca obedeceo, antes por induzimento
delles sem dispensação, e muito contra sua honra,
e com
grande escandalo, e nojo dos do Reino, cazou com Dona Mecia Lopes, Dona
fermosa, e viuva, filha de Dom Lopo, senhor de Biscaya, que era parenta
sua dentro no quarto gráu, a qual fôra
já cazada
com Dom Alvaro Pires de Castro, filho de Dom Pedro Fernandes de Castro,
o Castellão, e posto que El-Rei Dom Sancho pelos Prelados, e
povos, Senhores, e pessoas de titulo de seu Reino muitas vezes fosse
requerido, amoestado, e aconselhado, que se apartasse desta molher, e
recebesse outra qual, á sua honra, e conciencia convinha,
elle, ou por afeição não
quiz, ou por feitiços, de que diziam que era ligado, o
não pôde nunca fazer, nem consentir, porque
naquelle tempo segundo as couzas passavam, mui clara, e geralmente se
dizia, que El-Rei andava em poder della enfeitiçado, e cego
do juizo sem se poder apartar, e que ajudavam muito o mao conselho
daquelles, que sostinham a parte da Rainha Dona Mecia, por cujo favor
em que a este tempo havia o poder, e authoridade com grande
desolução elles tomavam, e destroiam do Regno
todolo que queriam, e assi o faziam, outros muitos grandes, e pequenos
por seu exemplo, os quaes males El-Rei por fraqueza de
coração não castigava,
nem tornava a elles com aquella severidade, e rigor, que se devia, e
assi teve El-Rei D. Sancho esta molher algum tempo sem della haver
alguma geração,
não cessando no Regno estes insultos, e
desoluções, antes
crecendo cada vez mais.
[22]
CAPITULO II
Do que o Papa a requerimento dos
Prelados, e povo de
Portugal escreveo, e requereo a El-Rei Dom Sancho por sua Bulla
Pelo qual os
Prelados, e povo de Portugal concirando a fealdade destas couzas, que
era em grande
ofença de Deos e cançasso e
destroição da terra, e vendo que a continua,
e perseverada
aprezentação de suas querelas ante El-Rei
não aproveitavam, todos em uma concordia se enviaram
querelar ao Papa Honorio III na Igreja de Deos a esse tempo Presidente,
que como bom, e Sancto Pastor, por aconselhar a El-Rei, e por
verdadeiramente ao Regno, sabendo todas as cousas sobreditas, que com
verdadeira relação lhe foram senificadas, enviou
a El-Rei
seu Breve, em que lhe vieram suas sanctas, e devidas
amoestações, e nelle límitado tempo,
em que inteiramente emendasse os erros de sua pessoa, e satisfizesse
aos danos feitos por sua negligencia, em todo o Regno, e passado o
tempo, que pera a emenda destas cousas lhe era assinado, sendo o Papa
certificado, que em nada se satisfazia, enviou a elle de Roma por
Delegado o Bispo Sabenense, o qual pela dureza, e pouca obediencia que
nelle, e nos seus Conselheiros achou, poz condicionalmente em suas
pessoas sentença de
Excommunhão, e de antredito, e em todo o Regno sem outro
devido, e peremptorio termo, que lhe assinou, se se não
emendasse, e satisfizesse. Das quaes
sentenças ficou por mero executor, por mandado especial do
Papa, o Arcebispo de Braga, que por se não satisfazer aos
males, tomadias e roubos, que eram feitos especialmente
[23]
ás Igrejas, nem se leixavam de
fazer tantos, o tornou a notificar ao Padre Santo, que por uzar de mais
clemencia, e piedade com El-Rei Dom Sancho, e lhe afastar todalas
couzas de sua essencia, lhe escreveo outra carta na entrada da qual lhe
tirou aquella solennidade de amor, e benção
Apostolica, que em outras escrevia aos outros Reis sempre costumada de
escrever, ca lhe não poz Carissimo em Christo filho, nem
disse nella: «Salutem &
Apostolicam
benedictionem».
Com a Bulla, que a El-Rei Dom Sancho em sua pessoa, e em muitas partes
de seu Regno, foi pubricada, elle foi muito anojado, e vendo se
apertado de muitas necessidades, que
nesta necessidade concorriam, aconselhado dos seus que o seguiam, disse
que em todo queria, e prometia de obedecer ao Papa, e satisfazer
inteiramente aos mandamentos da Sé Apostolica, e que elle
logo emendaria, e faria aos seus emendar todolos danos, e perdas que
eram feitos, e não consentiria, que dahi em diante em seu
Regno por elle, nem pelos seus, lhe fizessem outros alguns, assi por
suas cartas patentes, o segurou, e prometeo
particularmente ao Papa, pelo qual
a esta
cautella, e com
condição de todo comprir a certo tempo, foram
todos absoltos da excommunhão, e levantado o antredito do
Regno.
[24]
CAPITULO III
Como El-Rei Dom Sancho por
amoestações do Papa se não quiz
apartar de Dona Mecia Lopes sua molher, e como lhe foi tomada
Mas como El-Rei Dom
Sancho da excommunhão, e antredito se
vio livre, e afrouxado, e os Delegados do Papa partidos do Regno, elle
e os seus por mao conselho, e induzimento de maos homens, que comsigo
trazia, não leixaram de proseguir, e uzar de todolos erros,
e males, que dantes faziam, e esto durou por muitos annos, ca foi no
tempo do dito Papa Honorio, e depois em vida do Papa Gregorio IX que a
requerimento, e sopricação dos Prelados, e povo
de Portugal, lhe enviava continuas amoestações, e
sanctos conselhos, a que nunca
quiz inteiramente obedecer, quazi de sua boa, e fraca
condição, era faze-lo logo, a Rainha Dona Mecia
sua molher, e aquelles que seguiam sua vontade o disviavam de seu bom
proposito, especialmente em a não querer nem poder leixar
por molher, sobre que muitas vezes, foi pelo Papa aconselhado, e
amoestado, e excommungado, por quanto ella era filha do Conde Dom Lopo
de Biscaya, como já disse, e era muito conjunto ao Real
sangue dos Reis Despanha, de que El-Rei Dom Sancho descendia, e
porém nunca por direito, nem por sua vontade a quiz de si
apartar, ca por qualquer maneira que fosse, elle lhe era muito
afeiçoado, e porém
acha-se, que neste tempo, tendo-a El-Rei comsigo em Coimbra, um
Reymão Viegas de Porto Carreiro, com gentes de Dom Martim
Gil de Soveroza, naturaes de Portugal, e Vassallos del-Rei Dom Sancho,
da frontaria
[25]
de Galiza, donde eram, com multas
gentes, que comsigo trouxeram, tomaram a dita Dona Mecia, e a
leváram ao Castello Dourem, que ella tinha del-Rei por Arras
de seu cazamento, sobre o qual El-Rei logo foi armado, e com a gente
que pode requerendo lhes,
que lhe entregassem sua molher, e elles o não quizeram
fazer, antes resistiram a El Rei com armas, e forças, com
que se tornou, e elles a levaram a Galiza, mas o que della se depois
fez, ou com que fundamento, e cauza certa foi assi tomada, e levada, eu
o não achei, nem soube, e porém até o
tempo que o Papa
Innocencio IV foi Prezidente na Igreja de Roma, nunca por El-Rei Dom
Sancho nos males, e danos passados, se fez alguma emenda, nem deu
satisfação, nem menos havia rigor de
justiça, por cujo temor elles se leixassem de fazer.
CAPITULO IV
Do Concilio que o Papa Innocencio IV
fez em
Lião de França, onde os Prelados, e os Senhores
de Portugal, se foram querelar del Rei Dom Sancho, e lhe pediram novo
Regedor para o Regno, que por mingoa da justiça se perdia, e
lhe outorgou o Ifante Dom Affonso, Conde de Bolonha, irmão
do dito Rei Dom Sancho
Sobre o qual sendo
El-Rei por muitos, e muitas vezes aconselhado do
requerido, e pedido, que se emendasse, e castigasse os malfeitores,
elle não o querendo, ou não podendo fazer, os
Prelados, e povo se enviaram outra vez aggravar ao Papa Innocencio IV e
pedir-lhe remedio, o qual por algumas
[26]
vezes escreveo a El-Rei cartas de mui sanctos concelhos, e devidas
amoestações, e assi outras
ao Bispo de Coimbra, que em seu nome, e da sua parte o aconselhasse
para se privar dos erros, e males, que consentia, e o
esforçasse para castigo, e emenda daquelles, que os
cometiam, encomendando ao dito Bispo, que de todo o que em El-Rei sobre
esso achasse, e deste cazo lhe parecesse, lho fizesse saber por suas
cartas, as quaes enviaria ao Concilio, que se havia então de
fazer, como fez em Lião Solanova em França, para
que foram convocados os Reis, e Principes Christãos, e assi
muitos Prelados, no qual Concilio se acordaram muitas, e mui sanctas
couzas por bem da universal Igreja, ante as quaes El Rei S. Luis, por
mortal doença de um fernezim, de que escapou, tornando a seu
entendimento, fez nelle voto de ir, como foi em pessoa, por se recobrar
á Caza Santa, e á conquista de ultra mar, e levou
em pessoa comsigo a Rainha Dona Margarida sua molher, filha do Conde de
Proença, e desta ida tomou por cerco a Cidade Damiata no
Egipto, que era de imigos, mas logo pelo grande poder do
Soldão, El-Rei, e dous seus irmãos, que com elle
passaram, a saber, Dom Affonso, e Dom Carlos em uma batalha foram
tambem cativos, e resgatados pela mesma Cidade de Damiata, e das muitas
gentes de seu exercito, muitos foram mortos, e os outros prezos, e
cativos.
E retornando El Rei S. Luis a França com
esperança de vingar o mal passado, logo com outro grande
exercito, que refez, tornou a ir sobre a Cidade de Tunes, com propozito
de fazer o Rei della Christão, como lhe enviara prometer, e
de conquistar por hi a terra dos Infieis, ao longo do mar
até Alexandria pera dahi poder cobrar a Terra Sancta com
menos trabalhos das pessoas, e deficuldades, e estando neste cerco,
[27]
e tendo comsigo tres filhos, a saber
Felippe Johane, e Pedro, elle faleceo de fruxo, e o dito seu filho Dom
Joham de peste, e por estes merecimentos, e por outras muitas virtudes
este Rei Luis foi pelo Papa Bonifacio Canonizado, e era primo com
irmão deste Rei Dom Sancho, filhos de duas irmãs.
E volvendo ao proposito de sua Istoria, El Rei Dom Sancho com todolos
conselhos, e amoestações de
amor, e de rigor pelos Papas, e pelos de seu Regno muitas vezes lhe
foram feitos, nunca por sua natural fraqueza se quiz, ou nem se pode
emendar, nem dar ordem como se os malfeitores emendassem, e
castigassem, e privassem dos malificios que cometiam, pelo qual os
Prelados, e mais principaes do Regno com todo o povo, por remediarem
sua total perdição em que se viam,
acordaram de enviar pedir no dito Consilio ao sobredito Papa Innocencio
IV que lhes desse auto, e pertencente Regedor pera o Regno, pera o qual
foram eleitos pera Embaixadores, e Procuradores Dom Joham Arcebispo de
Braga, que em todo o Reinado del-Rei Dom Sancho tinha
muitas perseguições, e perdas
padecidas, e Dom Tiburço Bispo de Coimbra, e Ruy Comes de
Briteiros, e Gomes Viegas, nobres Cavalleiros, e pessoas de muita
authoridade no Regno, os quaes chegando ao Consilio, propozeram ante o
Papa todalas querelas do Regno passadas, e a
desesperação que
havia pera se nunca emendarem antes ao despois se fazerem peor, pera
cuja prova prezentaram aprovadas cartas, e verdadeiras
inquirições, que pera esso
levávam, e o Papa, que claramente gostou da verdade depois
de sobre esso haver sua deliberação lhes
respondeo que elles escolhessem, e tomassem por Regedor do Regno de
Portugal, quem quizessem, e entendessem, que o faria bem, com tanto que
fosse natural do Regno.
E porque os ditos Prelados, e Cavalleiros, tinham
[28]
já sobre este cazo assás deliberado,
e consultado
depois de lhe beijarem por esso seus santos pés, lhes
disseram, que a pessoa natural que pera tal cargo achavam era o Ifante
Dom Affonso, Conde de Bolonha, irmão do mesmo Rei D Sancho,
e que este lhe pediam por mercê ques désse
por Regedor, ca o Papa aprouve, e lho outorgou. Sobre o qual mandou
logo chamar o dito Ifante Conde, que era em Bolonha de
França, não
longe do Papa, que era na dita Cidade de Lião, ao qual Sua
Santidade fez larga relação das couzas de
Portugal, que até aquelle tempo eram passadas, e com esso as
necessidades que hi havia pera com paz, e justiça se
remediarem, e lhe encomendou, e mandou que asseitasse o Regimento,
defenção, e
governação do dito Rego, e fizesse como se delle
confiava, e o Conde sem contradição, nem escuza
consentio no dito
cargo, e o asseitou, e esto foi em Lião a seis dias de
Setembro de mil duzentos quorenta, e cinco
annos (1245).
CAPITULO V
Como o Conde de Bolonha, depois de
asseitar a
governança de Portugal fez sobre esso juramento com algumas
condições declaradas
Tanto que o Conde
pelo Papa foi dado por Regedor de Portugal, elle, e
os ditos Prelados, e Cavalleiros do Regno, por acordo que sobre esso
antes se tomou se vieram todos á Cidade de Pariz, onde
dentro nas cazas do Mestre Perochel da Cidade, sendo elle prezente, e
Mestre Joham, Capelão do Papa Adaião da Igreja da
Carnota, e Soeiro Soares Chançarel, e Estevão
Annes Cavalleiro do Conde, e
[29]
assi sendo prezentes os ditos Arcebispos, e
Bispo, e Cavalleiros, e outras muitas pessoas Religiozas do Regno de
Portugal, o dito Conde em prezença de todos, e tendo as
mãos sobre um livro dos Santos Evangelhos, fez solenne
juramento nesta fórma.
«Eu Dom Affonso, Conde de Bolonha, filho Del-Rei Dom Affonso
de crara memoria, Rei que foi de Portugal, prometo, e juro sobre estes
Santos Evangelhos de Deos, que por qualquer titulo, que eu aja o Regno
de Portugal, eu guarde, e faça guardar aos Concelhos, e todo
o povo, e Religiosos, e Clerezia de todo o Regno todolos bons costumes,
e foros escritos, e não escritos, os quaes houveram, e
tiveram com meu avô, e com meu visavô, e que tire
todos os maos costumes, e abozões, que vieram por algumas
necessidades, ou que pozeram algumas pessoas em tempo do meu padre, e
de meu irmão,
especialmente, que não leixe, nem consinta nenhum mau
costume, que ha no Regno de se com mudar a Justiça que ha de
morte de um homem em pena de dinheiro, e que eu faça, que os
Juizes, onde quer que os houver de poer, sejam justos, e sem
cobiça, e amadores de fazer justiça, e direito
sem medo de nenhumas pessoas, e esto a quanto eu puder, e entender
segundo me Deos ajudar, e que sejam feitos por
eleição
dos mesmos povos, que elles houverem de reger, e não por
afeição, nem rogo, nem pera oprimir, e
despeitar o povo, que hão de julgar em justiça, e
em
direito, e que este juramento me farão os Juizes quando
receberem os officios.
«Item, que eu tire Inquirição por mi,
ou por outrem se taes Juizes cumprem o que juraram, e os que
não fizerem o que devem que lhes mande dar tal pena, que a
elles seja escarmento, e a outros castigo.
«Item, que aquelles, que forçarem quaesquer
molheres,
[30]
ou matarem Clerigo, ou Frade,
ou qualquer outra pessoa, que eu faça delles taes
justiças, que a
sua pena castigue os outros.
«Item, que defenda, e mantenha em seu estado quanto eu puder
as Igrejas, e Moesteiros, e Lugares Religiosos fazendo-lhes entregar
qualquer couza, que lhe foi tomada, e que quaesquer males, e sem
razões, que alguns sejam em posse de fazer des o tempo de
meu irmão até agora que não lhe
valha alegança de tempo perlongado.
«Item, que eu faça emendar segundo meu poder, com
conselho dos Prelados, e dos do Regno todolos males, que até
qui foram feitos em elle, e reformarei paz quanto poder não
leixando sem pena taes couzas passar nem as consentindo fazer no dito
Regno.
«Item, que segundo me Deos ministrar, e eu puder, que bem, e
lealmente reja, e aministre o dito Regno de Portugal desque em elle
for, e faça especialmente fazer justiça, dando a
cada um segundo seu merecimento não asseitando pessoas
pobres, nem ricas.
«Item, que reja todo bom estado da terra, e proveito do dito
Regno com conselho dos Prelados, e povos delle, e ser sempre obediente,
e devoto á Igreja de Roma, minha madre, e assi como fiel, e
Catholico, e como todo Principe Christão deve ser, e que
guardarei estas couzas sobreditas segundo meu poder, e e me Deos
ministrar».
E depois que o dito Conde jurou estas cousas, e outras mais a estas
conformes, todolos que eram prezentes assináram o juramento,
e desso passaram escrituras pubricas, que os Prelados trouxeram a
Portugal.
[31]
CAPITULO VI
Das Bullas e Provizões do
Papa, que o Conde
trouxe a Portugal pera os do Regno sobre sua governança, e
assi outra Bulla que sobre o mesmo caso enviou aos Frades de S.
Francisco
Como o Conde fez este
juramento, procurou logo de aviar as couzas mais
necessarias pera a sua vinda, e álem de sua fazenda lhe
compria a honra de sua pessoa, e serviço, e repairo de sua
caza, e familia.
A tradução destas Bullas andam
muito viciadas nas copias desta Chronica, e se acham em outros livros,
e por esta, e outras cauzas senão imprimem neste Capitulo.
CAPITULO VII
De como o Conde de Bolonha chegou a
Portugal, e com elle
um delegado do Papa, e das notificações que logo
fizeram a El-Rei D. Sancho
Despedidas as Bulas
do Papa, e aparelhadas as couzas, que ao Conde para
seu caminho mais cumpriam, se despedio da Condessa de Bolonha sua
molher, que havia nome Dona Matildes, a qual fora já outra
vez cazada, e era da linhagem dos Rex de França, e molher,
em que havia singulares
[32]
bondades, e
vertudes, e tinham muitas terras, e grande fazenda, e dahi com os
Prelados, e Cavalleiros Portuguezes, que o foram requerer, se veio a
este Reino, e com elle enviou mais o Papa por seu Delegado pera estas
couzas de Portugal Frei Desiderio, pessoa
em
que havia doutrina, e
sinaes de bom Religioso, pera que em nome do Papa, e da sua parte
requeresse, que entregassem ao Conde os Castellos do Regno, nos quaes
pozesse Alcaides, e as Villas, e terras, em que fizesse Juizes com que
o Regno se mantivesse em paz, e justiça, e por tal, que nas
Fortalezas principalmente se não acolhessem os mal feitoras,
que nas pessoas, que em todo lhe não obedecessem, pozesse
sentença de excommunhão, e como chegaram ao
Estremo de Portugal, o Conde por suas cartas noteficou logo sua vinda a
todolo Regno, dizendo em seu titulo: «Dom Affonso, filho do
muito nobre Rei Dom Affonso por graça de Deos, Conde de
Bolonha, e Procurador, e defensor do Regno de Portugal». E
assi noteficou a El Rei Dom Sancho seu irmão, como a
requerimento do Regno vinha, e não pera ser Rei, mas pera
lhe reger, e governar o Regno, e se fazer nelle direito, e
justiça, que se não fazia, e lhe
conheceria senhorio, como a seu Rei, e Senhor, salvo a cerca daquelles,
em cujo poder, e mãos andava, e porque tão mal
aconselhado, e por cuja cauza tantos males no Regno eram feitos, e com
esto lhe enviou o Delegado um Breve do Papa.
[33]
CAPITULO VIII
Como El Rei Dom Sancho mal aconselhado
se foi com os de
sua valia pedir soccorro a Castella, e como veio em sua ajuda o Ifante
Dom Affonso de Molina com outros grandes, e gentes de Castella
El-Rei Dom Sancho a
este tempo era em Coimbra, e como vio as cartas do
Papa, e de seu irmão, e soube que elle era entrado no Regno
onde inteiramente lhe obedeciam, elle de si mesmo foi muito trovado, e
o fizeram ser muito mais os homens maos, e perversos Conselheiros, que
consigo trazia, porque receáram executar-se nelles sem
escuza as penas, que por seus desmerecimentos, e grandes delitos
mereciam, e estes lhe fizeram que não cresse, nem obedecesse
a couza, que o Papa, nem seu irmão lhe escrevesse, nem
outros por seu bem lhe dicessem, porque o bem, nem asecego del-Rei, em
cazo que depois o tivesse não asegurava, nem
descançava aos que o
seguiam, pelo qual de seu parecer delles, e como desesperado doutro bom
conselho, sem receber dano de pessoa alguma, nem lhe ser feita
desobediencia, nem contradição, se foi logo a
Castella com
fundamento de pedir soccorro contra seu irmão, a El-Rei Dom
Fernando, deste nome o segundo, que então nelle Regnava, que
era seu primo com irmão, filhos de duas irmãs
da Rainha Dona Biringela, madre del-Rei Dom Fernando, e Dona Orra Dom
Sancho a este tempo era em Coimbra, e como vio as cartas do
Papa, e de seu irmão, e soube que elle era entrado no Regno
onde inteiramente lhe obedeciam, elle de si mesmo foi muito trovado, e
o fizeram ser muito mais os homens maos, e perversos Conselheiros, que
consigo trazia, porque receáram executar-se nelles sem
escuza as penas, que por seus desmerecimentos, e grandes delitos
mereciam, e estes lhe fizeram que não cresse, nem obedecesse
a couza, que o Papa, nem seu irmão lhe escrevesse, nem
outros por seu bem lhe dicessem, porque o bem, nem asecego del-Rei, em
cazo que depois o tivesse não asegurava, nem
descançava aos que o
seguiam, pelo qual de seu parecer delles, e como desesperado doutro bom
conselho, sem receber dano de pessoa alguma, nem lhe ser feita
desobediencia, nem contradição, se foi logo a
Castella com
fundamento de pedir soccorro contra seu irmão, a El-Rei Dom
Fernando, deste nome o segundo, que então nelle Regnava, que
era seu primo com irmão, filhos de duas irmãs
da Rainha Dona Biringela, madre del-Rei Dom Fernando, e Dona Orraca,
madre del-Rei Dom Sancho, ou ao menos pedir este soccorro e ajuda ao
Ifante Dom Affonso, filho herdeiro do dito Rei Dom Fernando,
[34]
que em Castella e Lião, já
tinha grande
poder, e muita autoridade.
E com este proposito chegou a Toledo andando a era em mil e duzentos
quarenta e sete annos (1247) antes um anno que Sevilha fosse aos Mouros
tomada. A este tempo El-Rei Dom Fernando veo a Toledo, tendo tomado
Cordova, e já com dezejo, e fundamento de ir cercar, e tomar
Sevilha, se podesse, ao qual El-Rei Dom Sancho de Portugal seu primo,
dice logo, que a causa de sua ida a elle, era pera lhe fazer saber, o
que elle teria sabido, que seu irmão o Ifante Dom Affonso
Conde de Bolonha, entrára em seu Regno de Portugal, e com
ajuda e favor dalguns seus naturaes, se alçara contra elle,
e que o tinham recebido por Senhor, e que porém lhe pedia,
como a Rei tão
poderoso, e que com elle era tão conjunto em parentesco, que
em tamanha força lhe desse ajuda e favor com que
inteiramente cobrasse seu Regno, e lançasse delle
fóra seu irmão, que individamente lho tinha
tomado, e que pois não tinha filho que o herdasse, que
depois de sua morte ficasse Portugal a elle, ou a seu filho herdeiro.
Da qual couza prouve a El-Rei Dom Fernando, e pondo-a em obra ordenou
logo pera vir a Portugal o Ifante Dom Affonso de Molina, seu
irmão, filhos ambos del-Rei Dom Affonso de Lião,
e da Rainha Dona Biringela, e com elle Dom Diogo Lopes de Haro, Senhor
de Biscaya, e Dom Nuno Gonçalves de Lara, e Dom Ruy Gomes de
Galiza, e Dom Ramilo Frole, e Dom Rodrigo Froyas, bom Cavalleiro, e Dom
Fernando Anes de Lima, e outros grandes senhores, e com elles muitas
gentes de pé, e de cavallo, com que
entráram em Portugal pela Comarca de Riba de Coa, que a este
tempo ainda era de Castella, e por elles fazerem sua entrada pela terra
da Beira, que toda estava á
[35]
obediencia del-Rei Dom Sancho, não houveram no caminho
contradição, nem resistencia alguma, e assi
chegaram ao lugar de Abiul, que é a quatro legoas de Leiria.
E o Conde Dom Affonso de Bolonha tanto que entrou no Regno, tanta
alegria receberam os Portuguezes com sua vinda, sabendo quem era, e
como vinha a seu requerimento, que os mais dos Lugares por as proprias
vontades dos moradores delles se lhe davam, e aquelles em que achava
alguma contradição logo
por execuções que o Delegado sobre elles punha,
ou
por combates, ou forças não tardou em os cobrar
todos
salvo Coimbra, em que estava Martim de Freitas, e Celorico da Beira, em
que estava Dom Fernão Rodrigues Pacheco, que ambos as tinham
por El-Rei Dom Sancho de que ao diante direi.
CAPITULO IX
Como pelas deligencias do Conde de
Bolonha El-Rei Dom
Sancho se tornou a Castella, e do que se passou no caminho com os
Cavalleiros de Trancozo
E sabendo o Conde de
Bolonha da entrada del-Rei seu irmão no
Regno com o Ifante Dom Affonso de Molina, e com os Cavalleiros, e
gentes
de Castella, logo percebeo, e houve pera ter, e trazer comsigo por
defenção do Regno as mais gentes que pode, e com
ellas se veio a Obidos, e avizou a Dom João Arcebispo de
Braga, e a Dom Domingos, que então era Bispo de Coimbra, os
quaes lhe disseram que elles pela comissão do Papa, haviam o
dito Ifante Dom
[36]
Affonso de Molina com todolos
Senhores, e gentes de Castella por excomungados, e malditos, e desso
tomáram estromentos, e por esta cauza El Rei, e o Ifante
não passáram de Abiul, e se
tornaram pera
Castella sem no Regno, nem nas gentes, e couzas delle fazerem algum
mal, nem dano, e principalmente se tornaram, e não
proseguiram adiante, porque El Rei Dom Sancho pelas dezordens, e males
passados, a que nunca provera, era de todolos mais do Regno mui
dezamado, e mal quisto, e o Conde pelo contrairo álem desso
era já das mais forças delle de todo apoderado, e
por esta cauza o Ifante Dom Affonso com outros Senhores, que vieram em
ajuda del-Rei, vendo o pouco que lhe podiam aproveitar, e o muito dano,
que se podia seguir, aconselharam ao dito Rei Dom Sancho, que ou
ficasse em seu Regno, segundo lhe era apontado, ou se fosse com elles a
Castella.
Este derradeiro houve El-Rei por melhor, sendo pior conselho, e
porém El-Rei Dom Sancho tinha feitas
doações ao Ifante Dom Pedro seu primo de muitas
Villas, e Castellos principaes de Portugal, em grande dano da Coroa do
Regno, as quaes por sua injusta concessão não
houveram nunca efeito, como quer que o dito Ifante depois o procurasse,
e requeresse aficadamente por intercessões do Papa, que
sobre esso escreveo algumas vezes ao Conde de Bolonha, que justamente
sempre se escuzou.
E acha-se, que em tornando El-Rei pera Castella, achegou ao Lugar de
Moreira, que é junto da Villa de Trancozo, na qual a esse
tempo estava Dom Gonçalo Garcia, e Dom Fernão
Garcia de Souza, que diceram Esgaravunha, que foi bom trovador, e Dom
Fernando Lopes, e Dom Diogo Lopes, todos quatro irmãos,
filhos de Dom Garcia Mendes de Souza, filho do Conde Dom Mendo o
Souzão, e de Dona Elvira
[37]
Gonçalves, filha de Dom Gonçalo Paes de Toronho,
que eram nobres homens, e mui principaes no Regno, e Dom
Fernão Garcia sabendo da vinda de Castella del Rei por
conselho de seus irmãos com um só Escudeiro, a
que deram sua lança, e sendo elle vestido de todalas outras
suas armas se foi a Moreira, onde estava El-Rei, e o Ifante, e os
outros Senhores, e posto ante elles tirou o Elmo da cabeça,
e com os joelhos em terra beijou a mão a El-Rei, e ao Ifante
Dom Affonso, e como se levantou, fez reverencia a Dom Diogo, e a
todolos outros homens honrados, que eram prezentes, salvo a Dom Martim
Gil de Soverosa, que era o principal homem; porque El-Rei Dom Sancho
com quebra de seu Estado se regia.
E perguntando Dom Fernão Garcia a El-Rei se o conhecia? Elle
dice que si, e que era seu natural vassallo, e D. Fernão
Garcia lhe tornou dizendo: «Senhor meus irmãos,
que estão em Trancozo, e por cujo mandado venho como vossos
vassallos, e naturaes, vos mandam pedir, e requerer, por ante o Ifante
vosso primo, e estes Senhores que aqui estão, que vos vades
pera aquella Villa, na qual, e em seu Castello vos receberão
como a seu Rei, e Senhor, e assi em todolos outros de redor, que
são a seu cargo, com tanto que não leveis com
vosco Martim Gil, que aqui
está, nem os seus, que destruiram vossa terra, e elle matou,
e leixou os que quiz, sem querer que dos seus e doutros mal feitores se
fizesse alguma justiça, ca
certamente vós não tinheis de Rei mais que o
nome, e a muito alta linhagem, e Real sangue de que decendeis, porque
no efeito elle era Rei, e com este tamanho credito que lhe destes vos
teem mui mal servido, em especial por seu mao conselho, por cuja cauza
vós viestes ao estado em que agora estaes. E se elle dicer
que não é assi eu por minha verdade, e por sua
confuzão
[38]
me combaterei com
elle, e lhe porei as mãos, e o corpo, ca por esso venho aqui
armado, e alli á porta tenho o cavallo, e sobresso espero em
Deos, que eu o matarei, ou por sua boca lhe farei confeçar
que mui mal, e como não devia vos teem aconselhado, e com
grande quebra e mingoa de vosso Estado, e de vossa terra».
Este Martim Gil era Cavalleiro, e de honrada caza, e de grande
esforço, porque este foi o que com grande e bom nome seu,
venceo a lide do Porto. E ouvindo estas palavras a Dom
Fernão Garcia, ficou muito injuriado, e abatido
especialmente, porque áquella hora não lhe
respondeo como a sua honra compria porque sómente lhe dice:
«Dom Fernão Garcia
dizeis mal, e do que dicestes vos não deveis de achar bem,
se eu não morro». Polo qual Dom Martim Gil, fez
logo mostrança a alguns dos seus que alli estavam que lhe
fossem ter ao caminho, e o matassem, e Dom Fernão Garcia que
os vio, e entendeo bem a má
tenção com que sahiam, antes doutra couza dice a
El-Rei: «Senhor, vós quereis ir pera Trancozo,
como vos
tenho requerido?» E El-Rei lhe respondeo, que não,
e
então tornou D. Fernão Garcia, e dice ao Ifante
D. Affonso: «Senhor, sereis testemunha vós, e
esses Senhores que aqui estades da oferta, que por meus
irmãos, e por mi vim fazer a El-Rei».
E com dito esto volveo o rosto contra Dom Diogo Lopes, e a Dom Nuno de
Lara, e dice-lhes: «Bem vistes Senhores a offerta, que por
limpeza, e lealdade minha, e de meus irmãos fiz com El-Rei,
e assi ouvistes o que tambem dice a Dom Martim Gil, que aqui
está, e não querendo por seu corpo tornar a esso,
como por sua honra devia, mandou aquelles seus, que daqui partiram, que
me vão ter ao caminho pera desacompanhado me matarem, porque
vos peço, como a nobres, e honrados Cavalleiros, que por boa
mezura me mandeis
[39]
poer em salvo em
Trancozo». E logo Dom Affonso se levantou, e dice:
«Martim Gil vós
não atentaste no que Dom Fernão Garcia vos dice?
o que deveres de fazer, ca me parece que vos toca por maneira de
traição, e não lhe quereis poer as
mãos, como deveis, e vos elle requer?»
E Dom Martim Gil brevemente dice, que dava pouco por suas palavras
vãs, pelo qual estes Senhores diceram a El-Rei, que Dom
Fernão Garcia, e os nobres homens que eram em Trancozo
não podiam fazer melhor comprimento, porque com elle
compriam, como bons vassallos quanto deviam, e que dahi por diante
qualquer culpa que hi ouvesse, que era del-Rei, e não
delles, e logo Dom Diogo, e Dom Nuno com esses bons homens que hi eram
cavalgaram, e foram-se com Dom Fernão Garcia até
Trancozo, donde sahiram
seus irmãos e outra boa, e nobre gente, que hi eram, e lhe
tiveram em mercê sua vinda, e depois de praticarem sobre as
couzas que pendiam, Dom Diogo, e Dom Nuno se tornaram pera o Ifante Dom
Affonso, que juntos com El-Rei Dom Sancho se foram todos pera Castella,
e com elles este Dom Martim Gil, que era Portuguez, e homem muito
honrado, o que com medo do Conde Dom Affonso não ouzou de
ficar, e se foi tambem a Castella com El-Rei Dom Sancho, e
lá faleceo, e foi del-Rei D. Affonso Decimo, com quem viveo
havido por Rico homem, e em grande estima, e por tál
está posto por testamenteiro,
com outros no testamento del-Rei, quando por desagardecimentos do
Ifante Dom Sancho seu filho, o deserdou de Castella, ainda que seu
deserdamento não houve efeito.
[40]
CAPITULO X
Como o Conde cercou em Celorico da
Beira a Dom
Fernão Rodrigues Pacheco, que lhe não quiz
obedecer, e como por causa de uma truita se alevantou o cerco
O Conde de Bolonha
governador como entrou no Regno segundo atraz
já dice, logo por força, ou por vontade, ou a sua
obediencia todalas Cidades, Villas, e Castellos do Regno, em que
entraram todalas que El-Rei Dom Sancho tinha dado em Portugal ao Ifante
Dom Affonso de Molina por entrar com elle, e em sua ajuda no Regno, do
que o dito Ifante se mandou queixar ao Papa, e assi com elle outros
Cavalleiros, e Alcaides de Portugal, pelo Conde de Bolonha lhes tomar
contra suas vontades os Castellos que tinham por suas menagens, e
destes o Papa se escuzou
havendo
que o Conde pera asecego, e boa governança do Regno fazia o
que devia, mas sómente escreveo ao Conde rogando-lhe pelos
Castellos, que por El-Rei Dom Sancho eram dados ao Ifante Dom Affonso
de Molina, ao que não satisfez pelos grandes inconvenientes
que nesto havia, e porque soube que eram cartas, e rogos de
comprimento.
Neste tempo depois del-Rei D. Sancho ser em Castella, porque o Castello
de Celorico da Beira, que tinha Dom Fernão Rodrigues
Pacheco, e o de Coimbra, que tinha Dom Martim de Freitas, ficaram
sómente por El-Rei, como atrás dice, o Conde
depois de sua partida lhes mandou dizer, e rogar que lhos quizessem
entregar, como os outros tinham já feito em
[41]
todo o Regno, prometendo-lhe por esso além de
fazerem o que deviam mercê, e bom galardão. E cada
um por si lhe respondeo: «Que elles tinham feita menagem a
El-Rei Dom Sancho, seu Rei e Senhor, e que em quanto elle fosse vivo,
posto que andasse em Castella, não deviam de entregar seus
Castellos, se não a elle, de cuja mão os
receberam, ou por seu especial mandado, e do Papa, nem por outro algum
temor, os não haviam de entregar, em cazo, que sobresso
fossem excommungados, e padecessem cercos, e quaesquer outras fadigas,
e tormentos».
Pelo qual vendo o Conde sua tão firme
determinação, e que pera o que dezejava
não aproveitavam muito suas repricas brandas, que fez,
detreminou cerca-los, e poz logo cerco em pessoa sobre Celorico, ca
este por ser mais junto á frontaria de Castella houve por
melhor cobrar-se logo, e este mandou combater muitas vezes, mas por sua
fortaleza, e por a boa gente que o defendia, não se podia
cobrar por força, e
durou o cerco tanto tempo, que por o Castello não ter
soccorro, nem lhe poder vir provizão de mantimentos de
fóra, foram os de dentro postos em tanta estreiteza de fome,
e doutras necessidades que por não morrerem, tão
cruas e dezesperadas mortes, como se lhes ofereciam, estavam pera se
dar, e entregar o Castello, e não sofrer mais apertos de
tão perversa
lealdade.
E estando nesta afronta se diz, que Dom Fernão Rodrigues
Pacheco se alevantou um dia muito cedo, e andando pelo muro cuidando na
preça, em que estava, e sobresso posto em desvairados
pensamentos sem determinadamente saber o que faria, lembrando-se de
Deos, lhe pedia muito de coração, que por sua
misericordia por alguma maneira lhe socorresse, por tal, que
não cahisse em tamanha mingoa de sua honra, como seria dar
aquelle Castello se não a El-Rei,
[42]
que lho dera, e porque lhe tinha feita menagem, e que
durando nesta maginação, e
oração, que vio vir contra a ribeira do Mondego,
que é ahi junto, uma Aguia, que trazia nas unhas uma grande
truita, e que voando por sima do Castello lhe cahio dentro, ainda mui
fresca, com que algum tanto logo se alegrou, e que a mesma truita, e
com desse melhor pão, que no Castello se pode haver, e
aparelhar, mandou todo em prezente ao Conde no arraial, que tinha
cercado, e lhe mandou dizer: «Que bem o poderia ter cercado
quanto fosse sua mercê, mas que se por fome o esperava tomar,
que visse se os homens, que daquella vianda eram bem bastecidos, se
teriam rezão de entregar-lhe contra suas honras o
Castello». Da qual couza o Conde, e estes a que do prezente
deu parte, foram assás maravilhados, e vendo, que por longar
mais o cerco alli, não aproveitava, e em outras muitas
partes danaria, alevantou o cerco sobre Celorico, e o foi pôr
sobre Coimbra.
CAPITULO XI
Como o Conde foi cercar o Castello de
Coimbra, que tinha
Martim de Freitas, por El Rei Dom Sancho, e das afrontas que passou no
cerco
O Conde como chegou a
Coimbra antes de fazer grandes aparelhos pera o
cerco e combates mandou dizer a Dom Martim de Freitas: «Que
lhe entregasse a Cidade, e o Castello, como por muitas vezes
já lhe mandara requerer, e por esso lhe faria muita
mercê, porque se o assi não fizesse, que o
combateria, e o cobraria tudo com sua perda, e dano». E
[43]
Dom Martim de Freitas lhe respondeo:
«Que sua mercê
poderia comprir sua vontade, e fazer o que quizesse, porém
que fosse certo, que em quanto soubesse que El-Rei Dom Sancho seu Rei,
e Senhor, era vivo, que lho não entregaria sem seu mandado,
ou sabendo, que era morto, e que o não ameaçasse
com morte, nem perigos, porque tudo padeceria com bom
coração por inteiramente comprir com sua
lealdade». Pelo qual o Conde assentou seu cerco sobre o
Castello, e ordenou seus combates, com que logo, e depois o combateo
muitas vezes, em que de uma parte, e da outra houve mortos e feridos.
Mas o alcaide, e os que por sua defenção comsigo
tinha eram taes, que os cometimentos do Conde não
aproveitavam pera cobrar o Castello por força, da qual cauza
anojado o Conde fez juramento a Deos de nunca se alevantar de sobre
elle até o tomar por força,
ou por fome, e assi o fez porque o cerco foi tão porlongado,
que os de dentro por falecimento dagoa, e de provizões, que
já não tinham, como
desesperados comiam, e bebiam couzas mui contrairas, e descostumadas da
natureza humana, que não ficáram bestas,
cães, gatos vivos, nem os couros das alimarias mortas. E
sendo o Conde desto certificado os mandava afrontar, e requerer cada
dia: «Que se dessem, e
não padecessem sem cauza, e por contumacia tão
asperas cruezas, que a sua tal façanha era vã,
que
não podia, nem devia levar ao diante».
Ao que Dom Martim de Freitas por sua honra, e fama não
queria obedecer, e dice, que durando este cerco, padecendo
já de dentro grande, e mortal necessidade de sede, que
porque viram um Cavalleiro do Conde cavalgado pelo rio do Mondego
passar, e que o cavallo de farto não provou agoa, e que os
de dentro magoados por sua mingoa, e envejozos da
bemaventurança
[44]
da alimaria, fizeram sobresso grandes
lamentações, com que alguns parentes, e amigos do
Alcaide lhe aconselhavam: «Que pois os padecimentos
incomportaveis que sofriam sem esperança de ajuda, nem
soccorro estranho eram taes, que já se não
podiam comportar, e elle no Regno era só o que sostinha tal
profia, que por dar a elle, e aos seus as vidas, désse o
Castello ao
Conde».
Dom Martim de Freitas lhes respondeo: «Parentes, e meus
amigos, que aqui estaes, nunca Deos queira, que obedecendo a esse vosso
concelho eu ponha tão grande magoa sobre minha limpeza, nem
consinta tamanha traição sobre minha honra, e
lealdade, nas quaes todas encorreria se desse este Castello
senão a quem por minha menagem mo deu, em quanto elle for
vivo, e ami não fica por ver, e conhecer craramente as
grandes tribulações que vós, e eu, e
todos
aqui padecemos, mas se vós quizerdes trazer a vossas
memorias, e poer ante estas vossas necessidades outras muito maiores
fomes, e males, que muitos sendo cercados já padeceram,
achareis que por manterem suas lealdades depois que todalas couzas lhe
faleciam a comerem as raizes das viz ervas, se sostiveram, pelo qual
deste temor e afronta prazerá a Deos por sua piedade, que
bom nome, e segurança nossa sedo nos livrará, e
em algum tempo vos alegrareis contardes a vossos filhos e amigos estes
males que padeceis, com que não acrecentareis
pouco em vosso louvor e merecimento, e obrigação
de bondade, e lealdade, que a outros em
semelhantes cazos confrangeo, e essa mesma neste cazo nosso nos
não desobriga, ca em outra maneira as vidas, que salvamos,
durarão poucos dias, e a infamia, e deshonra, que por esso
recebemos, durarão pera sempre, pelo qual vos rogo, que em
quanto poderdes não faleçais, e me ajudeis, ca
Deos nos
acorrerá, e este
[45]
mal prazendo a
elle não durará muito, e por
ventura se algum de vós pera seu serviço, ou pera
outra sua deleitação tiverem dezejos de molheres
dizei-mo, que aqui está minha filha, que é boa
donzella, e
que muito amo a que eu mandarei que em tudo vos sirva de boamente,
porque com melhor vontade consentirei, e menos me doerá, que
ella perca a vertude de sua virgindade, que por mingoa de
vós outros, perder eu minha lealdade, e ser constrangido a
fazer tamanha traição, como seria dar como
não devo
este Castello a quem mo não deu».
Com estas palavras, que Dom Martim de Freitas dice, ficaram todos muito
maravilhados, e louvando muito sua bondade, se esforçaram, e
lhe prometeram, que ora fosse com rezão, ou sem ella, elles
por satisfazer a seu dezejo por algum cazo, e afronta, que sobreviesse,
o não leixariam, antes todos morreriam primeiro com elle.
CAPITULO XII
Como pela morte del Rei Dom Sancho,
Dom Martim de Freitas
entregou o Castello de Coimbra, e das deligencias e exames que primeiro
fez por limpeza de sua rigorosa lealdade
Estando Dom Martim de
Freitas nesta afronta com El-Rei, e havendo
já um anno e quatro mezes, que El-Rei Dom Sancho fora pera
Castella, prouve a Deos de o levar deste mundo, e faleceo em Toledo,
como adiante direi, e sendo de sua morte certificado o Conde seu
irmão, tendo ainda o cerco sobre Coimbra, como Principe em
que havia
[46]
muita prudencia, e grande piedade,
mandou logo ajuntar muito pão, e vinho, e carnes, e
pescados, e outras maneiras de refrescos, e mandou levar tudo ao
Castello, enviando dizer ao Alcaide: «Que fosse certo, que El
Rei Dom Sancho seu irmão era já falecido,
e que lhe daria tempo, em que por elle em pessoa, ou por outrem,
podesse haver desso verdadeira certidão, com a qual
entregasse o Castello».
Dom Martim escolheo certificar-se por si mesmo. E o Conde o segurou da
hida e estada, e ser livre até tornar ao dito Castello, que
então se não
combateria. Dom Martim de Freitas chegou a Toledo, e como quer que por
muitos fosse certificado da morte del-Rei Dom Sancho, que no Moimento
que mostraram o viram sepultar, elle o não quiz crer, mas
por mór
certeza fez tirar a campa que o cobria, e como o vio, e achou que em
certo era aquelle, se diz, que prezente muitas testemunhas, que trouxe
por comprir com sua menagem poz as chaves do Castello de Coimbra, que
levava, no proprio braço direito del-Rei Dom Sancho, e
depois de lhe fazer por ellas entrega do dito Castello lhas tirou, e
trouxe comsigo a Portugal, e desso tomou escrituras pubricas, e fez
cerrar o Moimento, e se tornou a Coimbra, e dentro entrou secretamente
no Castello, e ao outro dia mandou logo dizer ao Conde que o fosse
receber, porque já lho podia entregar, e lhe devia obedecer:
e que a elle, e não a outro algum o entregaria com boa
vontade.
O Conde foi logo ao Castello, e o Alcaide abrio logo as portas delle, e
tomou a molher, e a filha, e as poz fóra dizendo:
«Leixemos este Castello a cujo
é». E com esso se poz de joelhos diante o Conde, e
com as chaves delle nas mãos alevantadas lhe dice:
«Senhor, pois a Deos prouve que El-Rei Dom Sancho, vosso
irmão falecesse tomai vossas chaves, e vosso
[47]
Castello, e daqui por diante eu vos servirei, e haverei por
Rei, e Senhor». E logo amostrou ao Conde, e á
nobre gente que era com elle as escrituras das deligencias, que em
Toledo por sua honra, e descargo fizera, e acertou-se que um Cavalleiro
do Conde, que era prezente dice a Dom Martim de Freitas: «Que
porque não pedia perdão ao Conde, por quanto nojo
e desserviço lhe fizera, e por lhe ferir, e matar tanta
gente, denegando-lhe tanto tempo a entrega e obediencia do Castello,
que era seu».
E Dom Martim em se querendo escuzar pera não dever de pedir
tal perdão, acudio mui prestes o Conde, e dice ao fidalgo,
que o reprendia: «Que semelhante perdão em tal
cazo Dom Martim não era obrigado de pedir, porque elle
não fizera erro, mas tinha feita boa façanha dina
de bom Cavalleiro, e leal
fidalgo». E por ella lhe tornava a dar o dito Castello pera
elle, e pera todos os que delle decendessem, fazendo menagem a elle, e
a todos seus herdeiros. E Dom Martim lhe respondeo: «Que lho
tinha muito em mercê; mas que elle por alguma maneira
não tomaria o dito Castello, antes lançava
maldição a
seus filhos, e netos, e a todolos que delle descendessem até
o quarto grao se por Castello fizessem menagem a Rei, nem a outra
pessoa de qualquer condição que
fosse».
E com esto assi concertado o Conde leixou o Castello de Coimbra, como
devia, e se tornou outra vez a Celorico, onde Dom Fernão
Rodrigues estava, porque da morte del-Rei Dom Sancho era já
bem certificado, e assi sabia que o Castello de Coimbra já
era entregue, deu logo ao Conde o Castello sem mais resistencia, nem
cautella. Estes dous foram os derradeiros Castellos de Portugal que ao
Conde obedeceram.
[48]
CAPITULO XIII
Da morte del-Rei Dom Sancho, e onde
jaz, e de algumas
couzas que se em seu tempo passaram
El-Rei Dom Sancho
depois da segunda vez que tornou a Toledo nunca dahi
mais se partio onde com sua vida, e costumes passados em grandes
virtudes, e com sinaes de bom, e Catholico Christão acabou
sua vida em idade de quarenta annos, na era de mil duzentos quarenta e
sete annos (1247) que dos quaes Reinou vinte e quatro, a saber vinte e
dous em Portugal, e dous estando em Castella, e seu corpo foi sepultado
na Capella dos Rex da Sé de Toledo, que elle mandou fazer
á sua propria custa, e assi deu grandes ajudas pera o
acabamento da dita Sé, que se então
fazia por El Rei Dom Fernando, que de mesquita, que era a mandou
refazer em fórma das outras Igrejas, como agora
está, porque quando El-Rei Dom Sancho se foi pera Castella,
levou comsigo muitas joias, e grandes riquezas, que ficaram del-Rei Dom
Affonso seu padre, e del-Rei Dom Sancho seu avô; das quaes
algumas não tornaram a Portugal, e todas se
gastáram em Castella.
Este Rei Dom Sancho no começo de seu Regnado deu
á Ordem de San Tiago em desvairados tempos, e por apertadas
doações, as Villas de Mertola e
Daljustrel, as quaes Villas tomou aos Mouros Dom Payo Correa, Mestre de
San Tiago de Castella, e porque eram da conquista de Portugal as tornou
a El-Rei Dom Sancho, que dellas fez as ditas
doações
á dita Ordem. E como estas Villas se ganharam, na Coronica
del-Rei Dom Affonso Conde de Bolonha, se dirá mais
[49]
largo, e El Rei Dom Sancho povorou de fogo morto
a Cidade da Idanha a velha, sendo de todo destroida dos Mouros, e
depois que El-Rei Dom Sancho seu avô a leixou á
Ordem do Templo, e o dito Rei Dom Sancho faleceo sem filho, nem filha
legitimos, nem bastardos, que se soubesse.
E dahi a um anno, em dia de São Clemente a vinte e tres dias
de Novembro do anno de mil duzentos e quarenta e oito annos, El-Rei Dom
Fernando tomou por cerco a Cidade de Sevilha aos Mouros, e dahi a tres
annos e meio, nella faleceo, e ahi jaz sepultado, e havia treze annos
que tambem tomára Cordova salteada primeiro, e entrada por
certos Christãos Almogaveis, e foi socorrida, e mantida por
o mesmo Rei Dom Fernando.
E em Regnando este Rei Dom Sancho faleceram de suas vidas por muitos, e
grandes milagres São Domingos, que faleceo em Bolonha, no
anno de mil duzentos e vinte sete (1227) e Sancto Antonio, natural da
Cidade de Lisboa, em Padua, os quaes suas mui sanctas vidas foram em
seu tempo deste Rei Dom Sancho, todos Canonizados, e referidos ao
numero dos Sanctos, por o Papa Gregorio IX, o qual Canonizou Sancto
Antonio na Cidade Despoleto em Italia anno de mil duzentos trinta e um
(1231).
DEO GRATIAS
INDEX
DAS COUSAS NOTAVEIS
A
Affonso II (El Rei D.) de Portugal, em que anno morreo,
pag. 19
Affonso (D.) Conde de Bolonha é nomeado pelo Papa Innocencio
IV para
Governador do Reino de
Portugal, pela incapacidade de seu
irmão D. Sancho II,
pag. 28.
Na Cidade de Pariz na
prezença de muitos Prelados e Cavalleiros, toma o juramento
do Governo do Reino, e de que forma o fez,
pag.
28. Deixa sua mulher a
Condessa
Dona Matilde em França, e parte para Portugal, e do modo
como se intitulava
pag. 32.
Cerca o Castello de Celorico, que governava
Fernão Rodrigues Pacheco, e o levanta por cauza de um
celebre estratagema de que este uzou,
pag.
42. Põe cerco ao
Castello de Coimbra, e da resistencia que lhe fez Martim de Freitas,
que o governava, até que sabendo da morte del-Rei D. Sancho
II lho entregou,
pag. 42 a
47.
Affonso de Molina (D.) irmão de D. Fernando Rei de
Lião, acompanhado de muitos Cavalleiros, e Soldados, entram
por Portugal á
petição del-Rei D. Sancho II para
lançar fóra delle a seu
irmão o Conde de Bolonha,
pag.
34. Volta com os que o
acompanhavam para Castella temerozo das censuras da Igreja,
pag. 36.
[51]
Aljustrel. Foi tomada aos Mouros por D. Payo Correa, e dada por El-Rei
D. Sancho II á Ordem de San-Tiago,
pag.
48.
Alvaro Pires de Castro, (D.) filho de D. Pedro Fernandes de Castro o
Castelão, foi cazado com D. Mecia Lopes, que depois cazou
com El-Rei Dom Sancho II,
pag. 21.
Antonio, (Santo) em que anno foi Canonizado por Gregorio IX,
pag. 49.
B
Beringella (D.) mulher del-Rei D. Affonso de Lião. tia
del-Rei D.
Sancho II, de
Portugal, o
aconselha muitas vezes a que caze, por ser muito conveniente ao seu
Reino, e elle o não executa,
pag.
20.
C
Celorico. É cercado o seu Castello por D.
Affonso
Conde de Bolonha, e levanta o sitio por um estratagema
de que uzou D. Fernão Rodrigues Pacheco, que o governava,
pag. 42.
D
Desiderio (Fr.) é delegado
do
Papa
Innocencio IV, para que entregue os Castellos, e Fortalezas de Portugal
á obediencia de D. Affonso Conde de Bolonha,
pag. 32.
Domingos, (S.) donde, e quando falleceo,
pag.
49.
F
Fernando (D.) Rei de Lião, em que dia, e anno conquistou
Sevilha,
pag. 49. Faleceo nesta
Cidade ibi.
Fernão Garcia de Souza, filho de D. Garcia Mendes de Souza,
e neto do Conde D. Mendo o Souzão, offerece
[52]
a El-Rei D. Sancho II, quando voltava para Castella
sem esperança de governar em Portugal, que se recolhe-se a
Trancozo, e da pratica que fez a El-Rei em Moreira contra Martim Gil,
pag. 36 e
37.
Fernão Rodrigues Pacheco, governando Celorico, e sendo
sitiado por D. Affonso Conde de Bolonha levanta o sitio por cauza de um
celebre estratagema de que uzou,
pag. 42.
H
Honorio III expede uma Bulla a Sancho II de Portugal, em que lhe
adverte queira emendar os absurdos que se cometem no seu Reino, e o
excomunga se não obedecer, sendo executor destas censuras o
Arcebispo de Braga,
pag. 22.
Segunda vez o notifica com
palavras
de maior
severidade, e rigor, até que El-Rei obedece,
pag. 23.
I
Idanha a Velha foi povoada por Sancho II.
pag.
49.
Innocencio IV convoca Concilio em Lião, e nelle á
petição dos Prelados e Conselheiros de Portugal
nomea por Governador do Reino a D. Affonso Conde de Bolonha pela
incapacidade de seu irmão D. Sancho II,
pag.
25 e
26.
João (D.) Arcebispo de Braga com D. Tiburço Bispo
de Coimbra, e outros Cavalleiros Portuguezes, vão ao
Concilio de Lião onde reprezentam a Innocencio IV, que lhe
nomeie Governador do Reino pela incapacidade de D.
Sancho
II,
pag. 27.
L
Lopo (D.) senhor de Biscaia, foi pai de D. Mecia Lopes mulher de D.
Sancho II, de Portugal,
pag. 21.
Luis (S.), rei de França primo del-Rei D. Sancho II, de
Portugal assistio no Concilio de Lião, que convocou
[53]
Innocencio IV,
pag. 26. Foi
conquistar a Terra
Santa, levando comsigo sua espoza a Rainha Dona Margarida, ibi.
Conquista a Cidade de Damiata, ibi. Morre no sitio da Cidade de Tunes,
e seu filho D. João e é Canonizado pelo Papa
Bonifacio VIII,
pag. 27.
M
Martim de Freitas Governando o Castello de Coimbra, e sendo cercado por
D. Affonso Conde de Bolonha animosamente o defende,
pag.
43 a
45. Parte
a Toledo para se certificar da morte del-Rei Dom Sancho II e achando
ser certa lhe entregou as chaves do Castello de Coimbra, e depois
voltando a ella o entrega a D. Affonso irmão do dito Rei
defunto,
pag. 46 e
47.
Martim Gil, cavalleiro honrado teve tenção de
matar a D. Fernão Garcia de Souza, pelo que disse da sua
pessoa a D. Sancho II em Moreira,
pag. 38.
Mecia Lopes (D.) filha de D. Lopo Senhor de Biscaia, viuva de D. Alvaro
Pires de Castro caza com D. Sancho II,
pag.
21. É separada
violentamente del Rei, e levada ao Castello de Ourem por estar
nullamente cazada com elle,
pag. 25.
Mertola foi conquistada dos Mouros por D. Payo Correa, e dada
á Ordem de San-Tiago por Sancho II,
pag.
48.
O
Orraca (D.) mãi del-Rei Dom Sancho II de Portugal, foi
irmã de D. Beringela Rainha de Lião,
pag. 20.
R
Reymão Viegas de Porto Carreiro, em companhia de D. Martim
Gil de Soveroza, e de outros Cavalleiros levaram para o Castello de
Ourem a D. Mecia, contra a vontade del-Rei D. Sancho II,
pag. 25.
[54]
S
Sancho II, (D.) de Portugal em que idade foi levantado Rei,
pag. 19.
Porque lhe chamáram Capello não se sabe
certamente, mas infere-se, ibi. Pela sua enercia padeceo o Reino
repetidas perdas no tempo, que o governou,
pag.
20. Caza com D. Mecia
Lopes, filha de D. Lopo Senhor de Biscaya, ibi. É admoestado
pelos Prelados, e povos do Reino a que se aparte de D. Mecia, e o
não executa, ibi. O Papa Honorio III, o exorta a que emende
os absurdos de que é author, aliás que o
excomungará,
pag. 22.
É advertido por
Gregorio IX a que largue a D. Mecia por estar nullamente cazado com
ella,
pag. 23. Tendo noticia de
que seu irmão D. Affonso
entrara no Reino para o governar parte a Castella para pedir soccorro a
seu primo D. Fernando, pera que o lançasse fóra,
e lho
concede,
pag. 33 e
34. Donde morreo, em que idade, e onde
está enterrado,
pag. 48.
Deu á Ordem de San-Tiago
as Villas de Mertola, e Aljustrel, que conquistára D. Payo
Correa,
pag. 48.
Sevilha. Em que dia e anno foi conquistada por El-Rei D. Fernando de
Lião,
pag. 49. Nella
morreo, e
está sepultado o mesmo Rei ibi.
T
Tiburço (D.) bispo de Coimbra com D. João
Arcebispo de Braga, e outros Cavalleiros Portuguezes vão ao
Concilio de Lião, onde representam a Innocencio IV a
necessidade que tem de que lhes nomeie Governador do Reino por ser
incapaz D. Sancho II,
pag. 25 e
26.
FIM
INDICE DOS CAPITULOS
I―Como o Ifante D.
Sancho Capelo, foi alevantado por Rei, e das
condições fracas que teve, e como cazou, e
não como a sua honra e estado Real compria e se
devia |
|
19 |
II―Do que o Papa a
requerimento dos Prelados, e povo de Portugal
escreveo, e requereo a El-Rei Dom Sancho por sua
Bulla |
|
22 |
III―Como El-Rei
Dom Sancho por amoestações do
Papa se não quiz apartar de Dona Mecia Lopes sua molher, e
como lhe foi
tomada |
|
24 |
IV―Do Concilio que
o Papa Innocencio IV fez em Lião de
França, onde os Prelados, e os Senhores de Portugal, se
foram querelar del-Rei Dom Sancho, e lhe pediram novo Regedor para o
Regno, que por mingoa da justiça se perdia, e lhe outorgou o
Ifante Dom Affonso Conde de Bolonha, irmão do dito Rei Dom
Sancho |
|
25 |
V―Como o Conde de
Bolonha, depois de asseitar a governança
de Portugal fez sobre esso juramento com algumas
condições declaradas |
|
28 |
[56]
VI―Das Bullas e Provizões do Papa, que o Conde trouxe a
Portugal pera os do Regno sobre sua governança, e assi outra
Bulla que sobre o mesmo caso enviou aos Frades de S.
Francisco |
|
31 |
VII―De como o Conde de Bolonha chegou a Portugal, e com elle um
delegado do Papa, e das notificações que logo
fizeram a El-Rei D.
Sancho |
|
31 |
VIII―Como El-Rei Dom Sancho mal aconselhado se foi com os de sua valia
pedir soccorro a Castella, e como veio em sua ajuda o Ifante Dom
Affonso de Molina com outros grandes, e gentes de
Castella |
|
33 |
IX―Como pelas deligencias do Conde de Bolonha El-Rei D. Sancho se
tornou a Castella, e do que se passou no caminho com os cavalleiros de
Trancozo |
|
35 |
X―Como o Conde cercou em Celorico da Beira a Dom Fernão
Rodrigues Pacheco, que lhe não quiz obedecer, e como por
causa de uma truita se alevantou o
cerco |
|
40 |
XI―Como o Conde
foi cercar o Castello de Coimbra, que tinha Martim de
Freitas, por El-Rei D. Sancho, e das afrontas que passou no
cerco |
|
42 |
XII―Como pela
morte del Rei Dom Sancho, Dom Martim de
Freitas entregou o Castello de Coimbra, e das deligencias e exames que
primeiro fez por limpeza de sua rigoroza
lealdade |
|
45 |
XIII―Da morte
del-Rei Dom Sancho, e onde jaz, e de algumas couzas que
se em seu tempo
passaram |
|
48 |
OBRAS PUBLICADAS
I |
― |
Historia
do Cerco
de Diu, por Lope de Sousa Coutinho,
1 volume
(esgotada) |
|
400 |
II |
― |
Historia
do Cerco de
Mazagão, por Agostinho Gavy
de Mendonça, 1 volume
(esgotada) |
|
400 |
III |
― |
Ethiopia Oriental,
por Fr. João dos Santos,
2
grossos volumes
(esgotada) |
|
1$500 |
IV |
― |
O Infante
D.
Pedro, chronica inédita por
Gaspar
Dias de Landim,
3
volumes |
|
700 |
V |
― |
Chronica
d'El-Rei
D. Pedro I, (o Cru ou
Justiceiro) por Fernão Lopes,
1
volume |
|
400 |
VI |
― |
Chronica
d'El-Rei D.
Fernando, por Fernão
Lopes,
3
volumes |
|
1$200 |
VII |
― |
Chronica d'El-Rei
D. João
I, por Fernão
Lopes, 7
volumes |
|
2$800 |
VIII |
― |
Chronica d'El-Rei
D. João
I, por Gomes
Eannes d'Azurara, vol.
I, II e III (VIII, IX e
X). |
|
1$200 |
IX |
― |
Dois
Capitães da
India, por Luciano
Cordeiro,
1
volume |
|
400 |
X |
― |
Arte da
Caça de
Altenaria, por Diogo Fernandes Ferreira,
2
volumes |
|
800 |
XI |
― |
Apologos Dialogaes,
por D. Francisco Manuel de Mello,
3
volumes |
|
1$200 |
XII |
― |
Chronica d'El-Rei
D.
Duarte, por Ruy de
Pina,
1
volume |
|
400 |
XIII |
― |
Chronica d'El-Rei D. Affonse
V, por Ruy de Pina,
3
volumes |
|
1$200 |
XIV |
― |
Chronica d'El-Rei
D. João
II, por Garcia de
Resende,
3
volumes |
|
1$500 |
XV |
― |
Vida de
D. Paulo de Lima
Pereira, por Diogo
do Couto,
1
volume |
|
500 |
XVI |
― |
Chronica d'El-Rei
D.
Sebastião, por Fr.
Bernardo da Cruz,
2
volumes. |
|
1$000 |
XVII |
― |
Jornada de Africa,
por Jeronymo de Mendoça, 2
volumes |
|
800 |
XVIII |
― |
Historia Tragico-Maritima,
por Bernardo
Gomes de Brito,
vol. I a
X |
|
3$800 |
XIX |
― |
Jornada de Antonio
d'Albuquerque
Coelho, por João Tavares de Vellez
Guerreiro, 1
volume |
|
600 |
XX |
― |
Chronica
d'El-Rei D. Affonso
Henriques, por Duarte Galvão,
1
volume |
|
600 |
XXI |
― |
Chronica D'el-Rei
D. Sancho
I, por Ruy de
Pina,
1
volume |
|
400 |
XXII |
― |
Chronica d'El-Rei
D. Affonso II e de
El-Rei
D. Sancho II, por Ruy
de
Pina, 1
volume |
|
400 |
EM PUBLICAÇÃO
Historia Tragico-Maritima,
por Bernardo Gomes de
Brito,
vol.
XI.