The Project Gutenberg EBook of Lendas dos Vegetaes, by Eduardo Henrique Vieira Coelho de Sequeira This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org Title: Lendas dos Vegetaes Author: Eduardo Henrique Vieira Coelho de Sequeira Release Date: December 4, 2008 [EBook #27412] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LENDAS DOS VEGETAES *** Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search)
LENDAS DOS VEGETAES.
DO MESMO AUCTOR:
Os reptis em Portugal.
A fauna dos Lusiadas.
Guia do Naturalista.
Ninhos e ovos.
Á Beira mar.
Notavel transplantação de uma palmeira.
Esboço biographico de Adolpho Frederico Moller.
Jornal de Horticultura Pratica (1889, 1890, 1891, 1892).
Typ. de A. R. da Cruz Coutinho. Caldeireiros, 28 e 30.
LENDAS
DOS
VEGETAES,
POR
EDUARDO SEQUEIRA.
PORTO—1892.
AO AMIGO
ALFREDO FERREIRA DIAS GUIMARÃES.
TIRAGEM UNICA DE 70 EXEMPLARES.
Ex. n.º 26
offerecido
por
O louro anjo Sible tinha sido mandado por Deus, mitigar o soffrimento d'uma pobre noiva cujo bem amado morrera na guerra, defendendo o solo sagrado da patria. Era Sible o anjo mais gentil de todos quantos formam a immensa legião que Deus commanda, e o favorito querido do Senhor.
Contente com o encargo que lhe fôra dado, Sible bateu as azitas da mais fina plumagem e dirigiu-se para a cabana perdida no meio do bosque, onde morava a desditosa Amel que, chorando desesperadamente, lastimava a solidão e o abandono em que ficava depois de têr architectado tantos e tão risonhos projectos de felicidade.
Sible entrou na cabana no momento mesmo em que a inditosa rapariga, allucinada pela dôr, procurava pôr termo á existencia, e começou, para a consolar, a pintar-lhe com tão brilhantes côres a morte gloriosa do noivo, o logar distincto que elle ia occupar no reino dos ceus, esperando que ella se lhe fosse juntar para se realisar o eterno e venturoso enlace patrocinado por Deus, que o desespero da rapariga abrandou como por encanto, e um sorriso, raio de sol após temporal desfeito, fugitivamente se lhe esboçou no rosto amargurado. Mas para que Amel merecesse uma felicidade tão extraordinaria, felicidade não sonhada por mortal algum, era preciso, indicou-lhe o anjo, que esquecesse a dôr mitigando o soffrimento alheio, indo em santa romagem do bem para a cabeceira dos doentes, dos pobres doentes desamparados de carinhos e de familia, e para junto das creancinhas que a guerra fizera orphãs, esperar que Deus a chamasse a si, dando-lhe a companhia eterna do bem amado.
Sible empregou o dia todo na sua divina tarefa, e quando a noute começou a estender o escuro veu sobre a terra, contente por se ter satisfatoriamente desempenhado da tarefa que lhe era imposta, despediu-se da donzella e quiz tomar o caminho do ceu. Mas com o cahir da noute estendera-se sobre o bosque um espesso nevoeiro humido que desnorteou Sible, e molhando-lhe as pennas das azas o impossibilitou de voar. O anjo vendo que lhe era impossivel alcançar o ceu, tratou de procurar um retiro agradavel e seguro onde podesse socegadamente esperar a manhã.
Junto de uma parede meio desmoronada, vicejava uma pujantissima roseira engrinaldada de formosissimas rosas brancas rescendendo os mais puros e divinaes aromas. Mais encantador abrigo, melhor docel não era possivel encontrar em todo o bosque.
Sible foi á parede apanhar um montão de fôfo musgo e com elle fez sob a roseira um leito confortavel, onde, depois, envolvendo-se nas alvas azas de arminho, se deitou disposto a esperar, velando, que chegasse a madrugada.
Porém o aroma que as rosas emittiam era tão embriagador, e o vento brandamente passando atravez a folhagem cantava melodias tão doces, que o anjo pouco a pouco cerrou os olhos e adormeceu profundamente.
Nunca no ceu Sible passara uma tão agradavel noite! Sonhou sonhos tão deliciosos que quando pela manhã o despertaram os primeiros raios do sol, beijou reconhecido as rosas, e estas, córando de alegria e pejo, ficaram para sempre rubras. Mas o anjo considerou o beijo bem fraca recompensa para quem tão agradavelmente o emballara toda a noite, e queria, antes de regressar ao ceu, dar-lhe recompensa maior.
Porém como tornar mais bellas as rosas em que tudo, fórma, colorido e perfume tão distinctamente brilhavam?
Esteve um momento pensativo, e depois, apanhando um pouco do musgo que lhe servira de leito, resguardou cuidadosamente com elle os botões das flores prestes a desabrochar, para que o frio, a chuva e os insectos lhes não causassem damno algum.
E em seguida, batendo as azas, voou para o ceu a dar conta a Deus da missão de que fôra encarregado.
E foi desde então que na terra começou a haver rosas musgo...
Hercules, o lendario gigante invencivel, regressando um dia de praticar uma d'aquellas suas tão memoraveis façanhas, deitou-se em pleno campo para dormir a sesta. Antes porém de se confiar aos braços de Morpheu, no sólo, junto a si, na previsão de qualquer repentino e inesperado ataque, espetou a pesada máça, mais forte que o ferro, e com que esmagava tudo quanto lhe oppunha obstaculo aos seus designios.
Dormiu o bom do gigante por muito tempo e quando acordou era quasi noite; procurou logo a arma predilecta, e com assombro viu em lugar d'ella uma pujante e formosissima arvore! A máça, ao contacto do sólo, enraizara, desenvolvera tronco, lançara ramos, folhas e fructo.
Hercules furioso arrancou o vegetal e, quebrando-lhe os ramos, fez do tronco uma nova e formidavel clava, mais sólida e forte que a que antes possuira.
Porém, dos fructos esparsos pelo sólo, nasceram ao depois novas identicas arvores, que para sempre ficaram sendo o emblema da força e do vigor.
Estas arvores são os carvalhos.
Dakkar era um ardente devoto de Siva a cruel deusa indiana que só gosta de morticinio e de sangue, e que recebe as adorações mais submissas, profundas e completas d'uma legião de crentes que habitam nos misteriosos recessos das florestas da India, d'essa terra das lendas e das maravilhas. Havia annos que vivia n'uma gruta em ardente adoração; de estar sempre de joelhos creara calosidades que lhe não permittiam endireitar as pernas, e as unhas dos dedos das mãos, que conservava fechadas havia annos, tinham rompido os tecidos e appareciam do lado opposto.
Não havia martirio a que se não sujeitasse, e as populações fanaticas consideravam-o Santo e vinham de longe render-lhe homenagem e pedir-lhe conselhos.
Só uma nuvem negra, um pesar profundo perturbava o misticismo de Dakkar. Soffria sem custo o frio, a fome, a sede, as mais incommodas posições, dominando á vontade o organismo, só não podera ainda vencer o somno! Debalde se esforçava por resistir, debalde fazia despejar sobre si quantidades enormes de agua fria, debalde se sujeitava á applicação do ferro em brasa, ou fazia vibrar o tam-tam junto dos ouvidos. O somno como mais forte, subjugava-lhe a vontade e obrigava-o a dormir. No seu desespero chegou a fazer cortar as palpebras cuidando assim que espancaria para longe o somno, mas a tortura foi baldada. Os olhos permaneciam abertos mas Dakkar dormia!
Uma tarde,—havia dias que estava sem comer—orava o fakir fervorosamente pedindo a Siva que se amerciasse d'elle e lhe permitisse antes de morrer a ultima e suprema felicidade de poder vencer o somno, quando começou a sentir-se muito fraco, uma languidez precursora do somno a dominal-o, tudo a dansar-lhe á volta...
Seria fome? Seria somno? Oh, se apasiguando a fome vencesse o somno...
Olhou em roda... alimentos nenhuns; os fieis tinham-se esquecido de lh'os trazer... mas não havia mal... Fóra, perto da gruta, vegetavam variados arbustos, e a alimentação de tantos animaes tambem havia de convir ao homem. Seria mais um sacrificio... E Dakkar arrastando-se com difficuldade, quasi vencido pela necessidade de dormir, chegou até junto d'um vegetal e começou a devorar-lhe as folhas.
Mas, caso milagroso, á medida que ingeria as folhas do vegetal, o somno desapparecia e o fakir sentia-se mais fórte, fresco e vigoroso.
Obrigado oh Siva, exclamou elle jubiloso, agora posso morrer, pois morro feliz visto que graças a ti, alcancei dominar o que até hoje zombara dos meus esforços. Venci o somno!
Começou desde então a fazer colher pelos seus adeptos folhas e folhas do vegetal, que deitava de infusão, e quando o somno fazia sentir os seus primeiros rebates bebia da agua milagrosa e elle desapparecia logo.
O arbusto descoberto pelo fanatico fakir indiano, o vegetal dissipador do somno foi o chá.
N'aquelles bons tempos em que os deuses desciam á terra a confraternizar com os humanos, vivia nos Alpes um rapaz filho de gente pobre mas que pela sua bondade e pelo carinhoso disvelo com que sabia velar á cabeceira dos doentes era querido e estimado por todos.
Tinha a grande e apreciavel arte de por meio de doces cantares saber adormecer aquelles que eram apoquentados pelas mais terriveis e rebeldes insomnias, de modo que os seus conterraneos lhe não deixavam um momento só de descanso.
Em qualquer adoecendo, a familia ia logo têr com o pobre rapaz, que não podendo resistir ás supplicas lá se installava junto dos doentes, emballando-os com as suaves melodias que chamam o somno e que elle sabia dizer como ninguem.
Mas não podendo resistir a tão excessivas e continuadas fadigas e vigilias, foi pouco a pouco enfraquecendo, até que um dia se extinguiu ao caír da tarde, quando o sol morria no extremo horisonte...
Então os deuses para premiarem as boas acções do que morrera praticando o bem, tornaram-o immortal, transformando-o n'uma planta, na papoula, a quem deram a principal virtude pela qual os doentes o desejavam sempre junto a si, a de fazer esquecer o soffrimento por meio do somno.
Chicória era uma princeza tão formosa, que todos os homens ao vêl-a ficavam para sempre perdidos de amores. Dourara-lhe o sol os cabellos mais finos que a mais fina sêda, o céo emprestara-lhe aos olhos o seu doce azul, e a neve, a branca neve das montanhas, tinha inveja á purissima alvura da sua cutis.
Era um encanto.
O rei, seu pae, que a estremecia doidamente, satisfazia-lhe todos os caprichos, todos os desejos, de modo que o viver de Chicória deslisava entre affagos e desejos satisfeitos, n'uma completa e intensa felicidade.
Porém um dia o amor tudo transtornou.
Um bello trovador, um d'aquelles gentis bohemios que percorriam o mundo de lyra no braço, deixando um rasto de paixões no caminho percorrido, chegou ao palacio, onde foi recebido com todo o carinho que então se dispensava ao seguro depositario das antigas tradicções guerreiras e das castas e bellas lendas d'amor.
Berengère se chamava elle, e nunca até então viéra ao palacio real quem melhor soubesse dedilhar a lyra, soltar ao vento os magoados queixumes d'uma alma amorosa ou attingir o apice do enthusiasmo na narrativa dos feitos audazes dos valentes guerreiros immortalisados em campanhas féramente medonhas.
Chicória amou-o perdidamente, e costumada a satisfazer todos os caprichos, pediu ao pae que a casasse com o trovaor. O rei, que nada recusava á filha, accedeu constrangido, mas o bello trovador, que não queria perder a estremecida liberdade que tantas varias aventuras galantes lhe proporcionava e tantos constantes prazeres seguros lhe dava, ao saber dos desejos da formosa princeza fugiu do palacio para nunca mais voltar.
A alegria de Chicória desappareceu desde então para sempre. Passava os dias sentada no varandim do palacio olhando pela estrada além a vêr se o trovador, condoído do seu profundo amor, voltava arrependido, trazendo-lhe a ventura perdida.
Mas debalde esperou.
Veio o inverno, e de sempre olhar fixamente para os caminhos cobertos de neve, pouco a pouco desappareceu-lhe a luz dos olhos...
Então, não podendo resistir a este ultimo golpe, a princeza morreu de paixão.
Sepultaram-a perto do palacio, á beira da estrada, n'um local por ella designado, voltada para o sitio d'onde sempre esperara o regresso do amante; pouco tempo depois, da sepultura da gentil donzella morta de amor, brotaram as plantas que lhe conservam o nome, e que dão uma flôr que pelo bello azul que a tinge faz recordar os castos olhos da candidissima princeza.
Quando Ninive, condemnada pelos seus maleficios, estava prestes a ser arrasada, Jonas, que queria ser espectador do facto tremendo que prophetisára, veio postar-se n'um local d'onde perfeitamente podia presencear o castigo da cidade maldita.
Porém no posto de observação escolhido, não havia uma só arvore, e um sol de fogo, a prumo, tornava tão martyrisante a estada alli do propheta, que este, angustiado, pediu a Deus que o soccorresse, attenuando-lhe de alguma fórma a intoleravel ardencia dos raios solares. Ainda Jonas não tinha acabado a sua fervorosa prece, já uma planta se erguia do sólo, crescia rapidamente e envolvia-o tão bem, que o propheta, contentissimo e consolado, pensando que poderia gosar da bella frescura proporcionada pela folhagem do vegetal, terminou o pedido com um intenso agradecimento ao céo pelo beneficio prestado. Mas n'isto, tão repentinamente como brotára do sólo, a planta seccou e reduziu-se a pó, deitando assim n'um instante por terra as doces esperanças do santo propheta. Esta planta era a aboboreira.
Segundo resa a tradicção fielmente conservada atravez centenas e centenas de gerações, nunca houve nas ilhas do Sol Nascente princeza mais seductoramente formosa do que a companheira bem amada do principe Yoshimtsou.
Pintor algum por mais talento que possua, não será nunca capaz de, com as côres mais finas e custosas, crear imagem mais graciosa do que a da bella japoneza.
Ella era mais fresca que as alvoradas, mais alegre que as searas maduras, mais formosa que o sol e mais sabia que o mais sabio bonzo.
A justiça vacillava em dar sentença em negocio intrincado, dous esposos desharmonizavam-se, pleiteavam visinhos em encarniçada questão que nada parecia poder sanar, era só fazer a princeza Tou-Ki sabedora do caso e ella tudo resolvia com a mais imparcial justiça tudo aplanava e o que mais era digno de nota, a contento de ambas as partes que ficavam abençoando a Providencia das ilhas do Sol Nascente, a boa, a doce, a justa e a santa princeza Tou-Ki.
Por isso todo o mundo a adorava, todas a bemdisiam desde o miseravel habitante das tristes choupanas até ao opulento morador dos labirinticos palacios construidos de porcellana e forrados de custosa sêda de mil côres diversas.
Um dia porém o imperio onde só parecia residir a felicidade foi assolado por um terrivel flagello, uma medonha peste que dizimou espantosamente a população. Tudo era dôr, lagrimas e luto.
A gente atterrada, perdia a cabeça e a nada attendia. Agglomerava-se ante os templos, pedindo aos Deuses, em altos gritos, o termo da praga cruel para que não sabiam remedio.
Quem lhes valeu porém no afflitivo transe foi a boa princeza Tou-Ki. Corria de casa em casa tractando dos doentes, amortalhando os mortos de quem todos fugiam com horror, tomando conta dos pobres orphãos abandonados, consolando e animando os tristes. E a sua popularidade cresceu tão espantosamente que, quando apparecia, todos se lhe lançavam aos pés, e era adorada com fanatismo, como nenhum Deus até então o fôra.
Mas—crueldade da sorte!—quando a peste terminava, quando já todos, applacado o pavor, rendiam graças ao ceu por terem escapado ao mal dizimador, a princeza atacada pela doença cruel que desbastara o seu povo estremecido, foi instantaneamente arrebatada pela morte, como se esta receiasse que demorando-se alguns minutos o amor dos subditos lhe não deixasse empolgar a bella presa preciosa.
Então o luto foi geral, e todos, velhos e novos, choravam doidamente a perda da sua bondosa protectora, da sua amiga, da sua providencia, do seu bem.
O enterro da santa princesa foi a coisa mais maravilhosa que sonhar-se póde. Toda a nação a acompanhou até junto da sepultura aberta no centro de um extenso e alegre campo de arroz.
Poucos dias depois—caso estranho!—o local onde jasia o corpo da gentil princeza assignalava-se por uma profusão de flores estranhas, desconhecidas de todos, que espontaneamente brotaram do sólo, com as petalas graciosamente encaracoladas como o fôra o cabello da morta gentil, e de mil coloridos diversos desde o negro como os seus olhos negros, vermelho tão vivo como o que em vida lhe tingia os labios, e amarello intenso como o oiro dos seus cabellos até ao branco impeccavel da sua alma purissima.
De toda a parte, desde os mais remotos confins do imperio, o povo, celebrando o milagre, corria a visitar o tumulo milagroso para colher hastes das plantas sagradas que se tornaram logo as predilectas de todos, espalhando-se rapidamente por todo o paiz.
As rosas attrahiram desde a mais alta antiguidade a attenção de todos os povos e por isso não é de estranhar o grande numero de lendas que correm a seu respeito.
Os Egypcios tinham-as em grande valor, ornando-se com ellas, uso que passou aos romanos e d'estes a todos os povos modernos. Ainda não ha muito que appareceram em varios tumulos egypcios restos reconheciveis de rosas.
Os Hindus dizem que o sol é uma rosa vermelha, e os poetas antigos asseveram que as rosas eram todas brancas ao principio tomando a côr vermelha do sangue de Adonis, segundo uns, de Venus, segundo outros.
A Aurora era representada outr'óra sob a forma de uma grinalda de rosas, a rosa deu o nome ás festas da primavera (rusalija), a Virgem christã que substituiu no culto a Venus antiga adoptou como seu o mez das rosas e tem tambem o nome de rosario o cordão com contas, primitivamente composto com tractos da Rosa canina, com que as mulheres piedosas marcam as suas rezas.
Os papas aproveitaram um fragmento do antigo culto da rosa, dando annualmente na Paschoa uma rosa d'oiro aos principes mais religiosos da christandade.
Na Idade media, reminiscencia sem duvida do costume das dissolutas da Roma antiga se ornarem de rosas na festa da Venus Erycina, condemnavam as mulheres publicas, as raparigas deshonradas e os judeus, a trazerem como signal distinctivo uma rosa.
Os Romanos nos banquetes punham coroas de rosas na cabeça e ornavam com ellas as taças por onde bebiam em virtude de crerem que estas bellas flores preservavam da embriaguez.
A rosa foi não só simbolo da luz, do amor, da voluptuosidade, mas tambem simbolo funerario. Nas lendas persas as rosas e os cyprestes andam unidos; junto dos tumulos plantavam-se antigamente roseiras ao lado dos cyprestes.
Segundo uma velha lenda irlandesa, quando um doente vê uma rosa é signal e morte.
Os Turcos dizem que a rosa nasceu do suor de Mahomet, os Indianos fazem-a apparecer de um sorriso da voluptuosidade, segundo Galiano é filha do orvalho, e a crêr-se no que affirma Justin de Mieckow brotou do suor de uma mulher chamada Jone, suor que por um phenomeno singular era branco de manhã e vermelho ao meio dia. D'ahi as rosas brancas e as vermelhas.
Anacréonte ensina-nos que Cybéle, para se vingar de Venus, creou a rosa com o fim de pôr em parallelo a belleza de Venus com a belleza da rosa.
Guillemeau diz que a rosa foi rainha e virgem e conta assim a sua historia:
«Existiu n'uma cidade da Grecia e reinou em Corintho; a fama da sua bellesa espalhou-se largamente por todas as cidades ainda as mais distantes. A Achaïa quis possuir esta nimpha proporcionando-lhe as mais illustres allianças.
O bravo Halesia collocou-se em primeiro logar, em seguida Briar, que se orgulhava em ser filho do ceu, Arcas distincto dos outros deuses por possuir dois pares d'azas e por ultimo o vencedor de Thebas depoz tambem os seus louros aos pés da joven princeza possuido dos sentimentos affectivos de todos os outros adoradores. Mas a altiva belleza respondeu aos amantes que a importunavam: Não é facil obter um coração como o meu, nem julgueis que vos é possivel seduzir-me. Quem me quizer ha-de vencer-me.
Disse, e com um andar altivo encaminhou-se para o templo consagrado a Apollo e a Diana, seguida dos parentes e de todo o povo. A nympha approximou-se do altar e invocou a deusa protectora da castidade. N'isto os amantes furiosos despedaçaram as portas do templo e travou-se um combate encarniçado; a joven rainha sustentou o choque com firmesa, e defendeu-se com tanto vigor que expulsou para longe os ferozes amantes, cujo procedimento pouco delicado a ultrajava.
Quer que o pudor irritado désse novas graças á belleza quer que a victoria a tornasse mais imponente, Rhodante brilhava com um esplendor tão divino que o povo deslumbrado exclamou em côro:
Que a bella Rhodante seja d'hoje para o futuro a deusa d'este templo. Tiremos Diana do altar.
A antiga deusa teve de ceder o logar á nova, mas Apollo indignado por este cumulo de audacia resolveu vingar o ultrage feito á irmã e com um raio luminoso lançado obliquamente mostrou a aversão que tinha a Rhodante, e logo tudo mudou n'ella; os pés ligaram-se-lhes fórtemente ao altar, raizes alongaram-se e, privada repentinamente de todo o sentimento, ficou immovel, tornando-se-lhe duros os incantos vencedores. Os braços estenderam-se e transformaram-se em ramos de arvores carregados de folhas. Já não é a bella Rhodante, a orgulhosa rainha, mas uma arvore.
Porém a metamorphose não a prejudicou, visto que sob uma outra fórma conservou a primitiva insensibilidade e a sua belleza deslumbrante.
Toda a sua desgraça foi ser formosa, mais formosa que Diana aos olhos dos adoradores que a amaram.
Quasi logo o mesmo povo que tinha ultrajado Diana, agitou-se e esforçou-se pola vingar.
Sepultam Rhodante sob montões de espinhos que em logar de a prejudicar lhe serviram de defesa.
Os que doidamente a amavam foram tambem metamorphoseados: Briar foi transformado em verme, Arcas em mosca, e Halesia em borboleta, e sob esta forma vivem constantemente junto da nympha cruel a quem a metamorphose não mudou».
O marquez de Chesnel dá-nos noticia da seguinte lenda grega:
«Apesar de consagrada desde a mais tenra infancia ao culto de Diana, Rosalia formou o projecto de desposar o bello Cymédoro.
Mas não se affronta impunemente a colera dos Deuses. Apenas acabava de pronunciar aos pés do altar do hymineu os juramentos sagrados, uma flecha despedida por Diana trespassou-lhe o coração. Cymédoro com a cabeça perdida lança-se sobre o corpo da esposa, mas... oh prodigio! em lugar das formas seductoras da noiva só estreita de encontro ao peito um arbusto coberto de espinhos e flores odoriferas que recebeu depois o nome da infeliz Rosalia».
Abel Belmont, resume assim uma outra lenda que lhe foi transmittida por Joseph Balmont:
«Era no tempo maravilhoso em que a Natureza se afadigava em produzir em cada dia um novo sêr.
N'um alto monte, um arbusto estranho, sem ramos e sem folhas, tinha brotado da terra, e alli permaneceu durante muitissimos annos sempre no mesmo estado.
Um dia porém uma mulher joven e formosissima, tocando lyra e cantando melodiosamente, approximou-se da planta.
Ao vêr um vegetal tão feio, condoeu-se e afagou-o com a mão: apenas o vegetal se sentiu tocado, da extremidade semi secca borbolhou seiva e brotaram petalas macias como a mão que tocou o arbusto e rosadas como as faces da formosa cantora.
Nenhuma flôr na terra pôde depois para o futuro ser comparada em belleza e perfume á deslumbrante rosa que Venus fez nascer».
Angelo de Gubernatis conta-nos da seguinte fórma a lenda da roseira brava:
«A rosa canina passa na Allemanha por sinistra e diabolica.
Müllenhoff ouviu no Schleswig uma lenda em que o diabo, caído do ceu, afim de para alli tornar a subir procurou fazer uma escada com os espinhos da roseira brava.
Deus em castigo do facto condemnou o vegetal a não poder elevar-se mas só ramificar-se para os lados; então, despeitado, o diabo voltou-lhe para o sólo a ponta dos espinhos.
Outros pretendem que a roseira brava, recebeu esta maldição na occasião em que n'ella se enforcou Judas, e é commemorando este facto que ainda hoje chamam aos fructos, Judas-beeren (bagas de judas).
O aconito é conhecido como planta venenosa desde a mais alta antiguidade. Diz uma lenda grega que este veneno nascera no jardim d'Hécate da baba do cão Cerbero, quando Hercules o arrancou da entrada do Averno. O cão, ao contacto com a luz diurna, que pela primeira vez via, sentiu-se fortemente incommodado, expellindo pela negra e suja bocca torrentes de baba, que, ao tocarem o sólo, se transformaram em vegetaes venenosos como o liquido que lhes déra origem.
Angelo de Gubernatis conta-nos assim a lenda da apamarga (Achyrantes aspera), uma vulgar planta indiana.
Segundo uma lenda do Yagúrveda negro (II, 95), Indra tinha matado Vr'itra e outros demonios, quando encontrou o demonio Namuc'i e luctou com elle; vencido fez as pazes com Namuc'i com a condição de não o matar nunca, nem com corpo sólido, nem com liquido, nem de dia, nem de noite.
Então Indra apanhou espuma, que não é sólida nem liquida, e veio durante a aurora, na occasião em que a noute tinha desapparecido mas o dia ainda não raiára, e feriu com ella o monstro Namuc'i. Da cabeça de Namuc'i nasceu então a herba apamarga, e Indra em seguida, com ajuda d'esta herba, destruiu todos os outros monstros.
Satanaz tinha dado um grande campo a um lavrador com a condição de que metade da colheita seria para elle. N'aquella occasião, e na terra onde o facto se déra, não era conhecida senão a sementeira da batata, que foi a que o lavrador fez. Chegada a epocha da colheita, o diabo veio reclamar o que lhe pertencia, e, dizendo que a metade d'elle era a que estava debaixo da terra, emquanto que a do ar era do lavrador, deixou este só com a rama, sem ter alimento para todo o anno. O pobre do homem ludibriado por Satanaz, lastimava a sua sorte, chorando á beira do caminho que passava por junto do campo, quando appareceu um santo monge que inquirindo a causa do pezar do lavrador, resolveu pregar uma peça ao diabo. Disse ao homem que o acompanhasse e, chegado ao mosteiro a que pertencia, deu-lhe sementes de trigo, ensinando-lhe como se semeava e como d'elle se fabricava pão.
O lavrador fez o que o santo monge lhe indicara, e, logo que veio o tempo da colheita, chamou Satanaz que, como no anno anterior, reclamou o que estava sob a terra, mas d'aquella vez ficou logrado pois só teve as raizes emquanto o lavrador se regalava com a magnifica colheita de trigo que lhe forneceu um saborosissimo pão.
Esta amoreira que mais tarde recebeu o nome scientifico de Morus nigra, tem uma commovente e celebre historia de amor.
Thisbe tinha marcado uma entrevista a Pyramo sob a copada folhagem de uma amoreira. Thisbe chegou primeiro, e emquanto esperava o bem amado appareceu uma leôa com a bocca ainda tincta do sangue da presa que acabara de devorar. A donzella cheia de medo, fugiu correndo, e o vento arrancando-lhe o veu, que lhe envolvia a cabeça, atirou-o junto da leôa, que o despedaçou, tingindo-o de sangue.
Pyramo, ao chegar, vê o veu, e julgando que a amante fôra devorada pelas féras, cheio de desespero, suicida-se junto da arvore que por tanto tempo lhes abrigara os bellos e deliciosos sonhos de amor.
Thisbe, volta pouco depois, e, dando com Pyramo moribundo, trespassa o coração com o mesmo ferro de que elle se servira e cáe morta sobre o corpo do amante.
Os fructos da arvore brancos até então ficaram depois, para sempre, negros.
O cedro foi venerado desde os mais remotos tempos, e foi elle tambem que forneceu a madeira de que fabricaram a cruz onde Christo morreu.
Salomão cantou os cedros do Libano, os symbolos da immortalidade, e todos os povos antigos tinham pelo cedro particular veneração.
Uma arvore, considerada sempre pelo homem como arvore protectora por excellencia, não podia deixar de ser tambem divinisada pelas lendas. Entre as muitas que correm por todo o Oriente duas ha verdadeiramente deliciosas, uma chinesa e outra egypcia.
Hanpang secretario do rei Kang, amava doidamente sua esposa a formosa Ho. A sua pura felicidade foi porém perturbada um dia pelo rei Kang que, enamorando-se perdidamente de Ho, fez prender Hanpang esperando que assim a pobre esposa cederia aos seus infames desejos.
Hanpang vendo-se preso, impossibilitado de defender a esposa, desesperado, suicidou-se, e Ho, ao saber da morte do marido, atirou-se d'uma alta torre onde o rei a encerrara, morrendo logo da queda. Ao removerem o corpo da desventurada Ho foi-lhe encontrada uma carta dirigida ao rei em que pedia que lhe mandasse sepultar o corpo junto do do marido.
O rei, porém, furioso por ter sido ludibriado, ordenou que os corpos fossem enterrados longe um do outro, mas, caso estranho, de noite brotaram dous cedros um de cada sepultura, e em poucos dias cresceram tanto, que, apesar de muito afastados um do outro, entrelaçaram fortemente os ramos e as raizes, conseguindo assim os dois esposos, eternisar transformado o seu amor.
A lenda egypcia differente na fórma, no fundo é quasi a mesma.
Batou, um heroe egypcio, tem a vida ligada ao viver do cedro. O seu coração está no centro da arvore junto á qual vive. Cortando a arvore o heroe morrerá. Porém dado esse caso, ainda póde vir a resuscitar se antes de sete annos seu irmão Anpon, lhe procurar o coração e, logo que o encontrar, o mergulhar n'um certo e especial liquido sagrado.
Os deuses que particularmente estimavam Batou, não querendo que elle vivesse constantemente só, junto do cedro que lhe guarda o coração, dão-lhe por esposa uma mulher que especialmente criaram para tal fim, e que é a mais formosa que até então existira.
Batou, perdido de amor pela mulher, cuja belleza é funesta, revela-lhe o segredo da sua existencia fatalmente ligada á do cedro.
Um rio que passava atravez o bosque apaixona-se pela mulher de Batou, e este, para aplacar as aguas, vê-se obrigado a cortar á esposa uma trança de cabello e dal-a ao rio. O rio orgulhoso com o bello penhor recebido leva-o ao sabor da corrente, emballando-o com melodias estranhas e embriagando-se com o delicioso aroma que o cabello emittia.
A lavadeira do rei d'aquelle pais, que estava lavando roupa nas aguas do rio, vê a formosa trança, apanha-a e vae-a entregar ao rei, que vendo cabellos tão bellos e aspirando-lhe o perfume embriagador, fica logo apaixonado pela mulher, a quem pertenciam, e manda soldados ao bosque do cedro, com o fim de se apoderarem da cubiçada presa, mas Batou mata-os a todos. O rei não desanima, levanta um novo e numerosissimo exercito e com elle consegue vencer Batou e obter a mulher.
Porém esta não podia casar com o rei emquanto Batou fosse vivo; preferindo porém ser rainha a mulher de um heroe revela ao rei o segredo da vida de Batou.
O cedro então é cortado e Batou morre.
Anpou que ia visitar o irmão, encontrando-o morto, parte á busca do coração para o fazer resuscitar, e só ao fim de quatro annos é que consegue descobrir no interior de um cedro o coração do irmão.
Depõe-o logo n'um vaso cheio de liquido sagrado e passado um dia o coração começa a palpitar e Batou revive. Anpou faz-lhe beber o liquido e o coração e Batou adquirindo todo o seu passado vigor transforma-se n'um touro que todo o Egypto venera.
A rainha ao saber que Batou vive transformado em touro, obtém do rei que este o mande matar, porém quando o animal era immolado as suas primeiras gotas de sangue logo que tocaram no sólo deram nascimento a dous cedros, nova transformação de Batou.
O rei a pedido da mulher, faz cortar as arvores, trabalho a que ella assiste jubilosa.
Porém um pequenino fragmento de madeira salta e entra-lhe pela bocca, sem que lhe seja possivel expellil-o. Passados dias vê a rainha que está gravida e no fim do tempo proprio, dá á luz um formoso rapaz, nova incarnação de Batou.
O marmelleiro foi na antiguidade consagrado a Venus, e o seu fructo considerado como um penhor de amor.
Outr'ora os noivos, segundo Plutarco, comiam marmellos, para lhes tornar agradavel a sua primeira entrevista e segundo outros para obter filhos varões. Porém a verdadeira consagração do marmelleiro e do marmello a Venus, isto é ao amor, vem de um facto astucioso que a antiguidade altamente celebrou.
Akontius apaixonou-se doidamente pela formosa Cydippe de Delos. Não se atrevendo a fazer-lhe uma declaração de amor, colocou no templo de Diana, junto do local onde Cydippe costumava fazer as suas orações á deusa, um marmello com a seguinte inscripção: Pela divindade de Diana, juro que serei esposa de Akontius.
A rapariga entrando no templo e vendo o fructo apanhou-o e leu em voz alta a inscripção fazendo por isso, inconscientemente o juramento sagrado de esposar Akontios, o que religiosamente cumpriu.
A romã simbolisa a fecundidade e a riqueza pelo grande numero de sementes que em si contém. Foi um fructo muito apreciado pelos antigos que o tinham em especial estima.
Dario, o grande rei asiatico, repetia frequentemente que só desejava possuir tantos amigos fieis como de sementes tem uma romã.
Era tambem frequente, n'aquelles bons remotos tempos os povos presentearem os reis que os visitavam com romãs, significando assim que lhes desejavam tão numerosos e felizes annos de vida, como as sementes contidas nos fructos.
Na Turquia, as noivas, após a ceremonia do casamento, atiram violentamente com uma romã ao chão; se o fructo não rebentar é signal que não terão filhos, e rebentando terão tantos quantas forem as sementes que d'elle se espalharem pelo sólo.
A romanzeira era tambem arvore phallica por excellencia, facto confirmado pela seguinte e antiquissima lenda narrada por Oppiano.
Um homem viuvo namorou-se tão furiosamente de uma filha por nome Sida, que esta teve de suicidar-se para escapar á infame perseguição do pae. Os deuses condoídos transformaram Sida em romanzeira e o pae em falcão, e é por isso—diz Oppiano—que estas aves nunca pousam na romanzeira, evitando-a cuidadosamente.
Foi na Grecia, que teve origem a lenda da açucena a quem os gregos chamavam a flôr das flores.
Héraclés, uma creança, por ordem de seu pae Zeus, sugou o leite dos peitos de Héra, emquanto esta dormia, afim de participar da immortalidade que ella possuia. A creança porém, fel-o com tal força, e o leite era tão abundante, que lhe sahiu em borbotões pela bocca e correndo pelo sólo além deu origem á via lactea e á açucena.
A deusa Aphrodite, que por ter nascido da espuma do mar se considerava de uma alvura sem egual, ao vêr a candidez da açucena ficou furiosa de despeito e, para se vingar da flôr, fez-lhe brotar do centro um enorme e feiissimo pistillo.
Simbolisa a palmeira a victoria, a riqueza, a força, a resistencia e a belleza. Na poesia oriental são muitas vezes comparadas as pernas e os braços das formosas indianas ás hastes flexiveis e elegantes das palmeiras.
A arvore divina de todos os povos não podia tambem deixar de ser santificada pelo christianismo.
Foi-o na seguinte e deliciosa lenda christã.
Quando a Virgem em companhia do esposo e do divino filho fazia a sua primeira e dolorosa viagem, descançou um dia á sombra de uma palmeira. Ao vêr os tentadores fructos da arvore, desejou-os ardentemente, porém estavam tão altos que lhe não era possivel chegar-lhe. S. José esforçava-se por subir á arvore, quando esta se inclinou e veio collocar-se ao alcance da Virgem que colheu os fructos que quiz, e só depois d'isso é que a arvore retomou a primitiva posição vertical.
Jesus Christo, que estava ao cólo da mãe, reconhecido pela dedicação da palmeira, abençoou-a dizendo que ella ficaria sendo o simbolo da salvação eterna para os moribundos e que havia de fazer—como mais tarde fez—a sua entrada triumphal em Jerusalem, com uma palma na mão.
A lenda relativamente a este vegetal é uma lenda allemã.
O diabo apaixonando-se por uma formosa princesa, esposa de um grande rei do paiz do Sol, roubou-a, encerrando-a em reconditos jardins situados entre altas montanhas.
Como a princesa chorasse constantemente por se vêr só, o diabo deu-lhe uma vara magica e disse-lhe que quando quizesse companhia tocasse com ella um rabanete que elle logo se animaria transformando-se em uma mulher. Porém as companheiras que a princesa obtinha d'esta fórma só viviam emquanto os rabanetes tinham succo. Logo que seccavam as donzellas morriam.
A princeza desejando enganar o diabo pediu-lhe para que lhe désse uma vara magica com a qual podésse transformar os rabanetes nos animaes que quisesse. O espirito das trévas imaginando que d'esta fórma obteria as boas graças da princeza accedeu gostoso. Esta, obtida a vara magica, transformou um rabanete em abelha que mandou como mensageira ao esposo. A abelha não voltou e ella transformou outro rabanete em grillo que faz seguir o mesmo caminho. Como o grillo não regressasse tocou um terceiro rabanete que transformou em cegonha e esta traz-lhe o esposo. N'isto o diabo, desconfiando que estava sendo ludibriado foi contar os rabanetes mas, emquanto se entretinha com este serviço, a princesa transformou um rabanete, que já tinha escondido de prevenção, em fogoso cavallo e, montado n'elle, juntamente com o esposo, fugiu para sempre do poder do diabo.
Esta planta foi, como é sabido, introduzida na Europa pelos portuguezes n'essa bella epocha em que audaciosos e fortes dictavam leis ao mundo submisso e absorto ante as suas façanhas sobrehumanas.
Recebida ao principio com estima, provocou em breve o tabaco, intensa e crúa guerra.
Para uns era a herva santa, o remedio certo e seguro de todas as doenças, para outros a herva do diabo, a herva maldita, a origem de todos os males.
A egreja lançou-lhe excommunhão, os monarchas açoutaram-a com os seus odios, e leis severissimas prohibiram o uso do tabaco. Pois apesar de tudo elle foi-se espalhando de tal fórma, que por todo o mundo é raro agora o homem que o não usa cheirando-o, fumando-o ou mascando-o. O tabaco hoje é quasi um alimento, e o producto querido dos principaes governos civilisados que d'elle extrahem as suas melhores e mais seguras receitas.
Medicos e hygienistas notaveis téem-se ultimamente esforçado em mostrar os inconvenientes do uso e abuso do tabaco, o quanto elle concorre para o enfraquecimento das gerações, mas tudo isso são palavras ao vento; todos reconhecem o mal mas ninguem tem forças de o cortar pela raiz.
O vicio alastra cada vez mais, do homem vae passando para a mulher e d'esta para a creança. É uma praga universal.
Espalhado como está, ferindo a imaginação de todos os povos, não podia deixar de ter o tabaco muitas e variadas lendas; a mais antiga e a mais curiosa é a dos Tchumaches.
Este povo, que sempre seguira a lei de Deus, foi uma vez tentado por uma mulher idolatra que, com os seus propositos libertinos, esteve quasi a fazer naufragar a proverbial castidade dos Tchumaches. Deus ao vêr em perigo os homens que estimava ordenou-lhes, para se lavarem da culpa, que matassem a seductora, e a enterrassem em seguida no centro de um escuro bosque.
O marido d'esta mulher, industriado pelo diabo, que não podia vêr com bons olhos a virtude dos Tchumaches, plantou-lhe sobre a sepultura uma vara que aquelle lhe deu, vara que com o tempo se transformou n'um bello arbusto de largas e formosas folhas. Os Tchumaches passando mais tarde por alli viram o idolatra cortar ao arbusto as folhas seccas, encher com ellas um cachimbo, pegar-lhe fogo e sorver depois com avidez o aromatico fumo que ellas desenvolviam.
Admirados com o facto, imitaram o manejo do idolatra, e sentiram tal prazer com o fumo do tabaco, que nunca mais cessaram de fumar, perdendo, assim as boas graças de Deus, e cahindo sob o dominio do diabo, pois a planta não era mais que uma nova incarnação de Satanaz o qual assignala a sua passagem por qualquer logar com fumo intenso e um cheiro nauseante, embriagador, egual ao do tabaco.
As espigas dos cereaes foram sempre o simbolo da abundancia, e a do milho, pela côr dourada da semente era mais particularmente o simbolo da riquesa.
Na Africa, entre os selvagens, a espiga do milho representa a propriedade do sólo.
Conta o Dr. Schweinfurth, n'um dos seus livros de viagens, que na Africa, as tribus depois da respectiva declaração de guerra, collocam no extremo dos seus dominios, em local bem exposto, de modo a poder facilmente ser visto por todos, uma espiga de milho, uma mólhada de pennas d'ave e uma flecha, o que quer significar que quem cortar uma espiga de milho ou agarrar uma ave, será morto por uma flecha.
Na Calabria ha a seguinte e graciosissima lenda relativa ao milho, que seguindo Gubernatis não é mais do que uma variante, sob fórma moderna, do antigo conto mytologico de Midas que mudava em oiro todo o trigo que tocava.
Uma mãe tinha sete filhas, seis muito diligentes e cuidadosas e a setima preguiçosa em extremo. Eram todas tecedeiras, mas a mais nova, formosa entre as formosas, passava o tempo a tratar da sua pessoa e a confeccionar bellos vestidos em vez de cuidar das suas obrigações caseiras.
Um domingo as irmãs mais velhas foram á missa e deixaram a coser sob a vigilancia da mais nova sete pães de milho. Como se demorassem a mais nova foi comendo um a um os pães, de modo que quando as irmãs regressaram da egreja não restava nenhum.
As irmãs faltando-lhe o almoço fizeram tal barulho que teve de intervir para as apasiguar um dos mais ricos mercadores da cidade que n'aquelle momento passava por acaso na rua.
As irmãs fallando todas ao mesmo tempo dizem-lhe que a mais nova comia por sete, mas o homem comprehendendo que o barulho era motivado por inveja das outras irmãs e que a rapariga fiava por sete, tratou logo de se casar com ella.
Realisado o casamento o negociante partiu para longa viagem deixando á mulher, como tarefa, um grande quarto cheio de linho para fiar.
Estava prestes o regresso do negociante e a mulher ainda não tinha fiado nada. Por mais que quizesse não o podia fazer, e as irmãs jubilosas riam e troçavam-a, contentes por calcularem que o marido logo que chegasse não deixaria de lhe castigar severamente a preguiça.
A pobre rapariga chorava, chorava, pretendendo debalde fiar o linho mesmo com lagrimas, mas nada, nada obtinha.
Um dia que estava á janella a lastimar a sua sorte passaram umas boas fadas que, compadecendo-se da infeliz, lhe disseram que ao fiar, em logar de passar os dedos pelos labios, os passasse por farinha de milho.
A fiandeira assim fez, e d'ahi por deante, com grande jubilo, não só podia fiar quanto queria mas tambem o fio, ao contacto da farinha de milho, transformava-se logo em rico fio de puro oiro.
Leite de Vasconcellos, dá-nos relativamente ás cannas a seguinte lenda colhida em Rebordinhos, Bragança:
Havia uma vez tres irmãos. O mais novo tinha tres maçãsinhas de ouro, e os outros, para ver se lh'as tiravam, mataram-no e enterraram-no n'um monte. Depois nasceu na sepultura uma canna. Certo dia passou por lá um pastor que cortou um pedaço da canna para fazer uma flauta; começou a tocar, mas a flauta, em vez de tocar, dizia:
Toca, toca, ó pastor,
Os meus irmãos me mataram
Por tres maçãsinhas de ouro,
E ao cabo não as levaram.O pastor, quando ouviu isto, chamou um carvoeiro e deu-lhe a flauta. O carvoeiro começou tambem a tocar, mas a gaita dizia o mesmo. O carvoeiro passou-a a outra pessoa, e assim ella foi andando de mão em mão, até que chegou ao pae e á mãe do morto; a flauta dizia ainda o mesmo. Chamaram o pastor que disse onde tinha cortado a canna. Foram lá e encontraram o cadaver com as tres maçãs de ouro.
Narciso era um mancebo de uma formosura sem igual, formosura de que se orgulhava em extremo.
Um dia, debruçando-se sobre um regato, envaideceu-se tanto com a frescura e correcção do rosto reflectido na agua que se julgou superior em belleza a todos os sêres celestiaes. Estes, em castigo, transformaram-o na flôr que em memoria do facto ainda hoje lhe conserva o nome.
Pausanias diz que Narciso se afogou pensando vêr na agua, onde o seu rosto se reflectia, a imagem de uma irmã bem amada.
Gubernatis crê que esta lenda representa o sol poente que contempla no espelho do mar, onde vae desapparecer, a imagem de sua irmã a lua.
Sacaibu, o primeiro homem, tinha um filho Rairu a quem profundamente odiava. Resolvendo desfazer-se d'elle, abriu uma grande cóva na terra, cóva que ia ter a um profundo poço natural, e collocou n'ella um porco apenas com a cauda de fóra, e esta untada de visco, e ordenou ao filho que lhe trouxesse o porco senão que o matava. Rairu obedeceu, mas mal agarrou a cauda, ficou com as mãos presas e foi arrastado pelo animal para o fundo do poço, d'onde só pôde sahir á custa de innumeras fadigas. Chegado á terra, correu a contar ao pae que no interior do sólo existiam muitos homens e mulheres que poderiam ir buscar e fazer d'elles escravos que os auxiliassem nos seus trabalhos de cultura. Sacaibu então semeou pela primeira vez o algodão, cuja semente Deus lhe déra, e com elle teceu uma corda que lhe serviu para descer ao poço. Os primeiros homens que tirou eram pequenos e feios, depois extrahiu outros mais formosos e de côr differente e cada vez que descia ao poço a côr variava, até que por ultimo tirou uns completamente brancos. Quando pretendeu depois d'isso tornar a descer, a corda partiu e Sacaibu morreu da queda, razão pelo que não mais appareceram homens superiores em belleza e perfeição aos homens brancos.
N'outros tempos era o chorão uma magestosa arvore levantando nos ares a bella e finissima ramagem. Orgulhoso do seu extraordinario crescimento protestou que havia de chegar ao céo e Deus, em castigo da ousadia, condemnou-o a não poder erguer para o céo os ramos, pois quanto mais crescessem mais haviam de virar para o sólo.
É assaz conhecido o emprego nupcial das flores de laranjeira, como emblema da castidade, da puresa absoluta e completa.
Este vegetal é celebrado desde tempos immemoriaes, não só pelo aroma sem rival das suas formosas flores, mas tambem pelos seus bellos e deliciosos fructos.
Gubernatis escreve o seguinte relativamente á laranjeira:
«Nos contos populares piemonteses, o reino por excellencia, o reino rico, maravilhoso, é o reino de Portugal; e no Piemonte chamam sempre portogallotti ás laranjas. Portugal é a região mais occidental da Europa; no ceu, é tambem no extremo occidente, onde o sol se esconde, que acreditam estar situado o reino dos bemaventurados, o paraizo. Foi tambem no extremo occidente que Héraclés descobriu o jardim das Hespérides com a arvore de fructos d'oiro. Por isso assim como o Portugal, a região occidental, o paraizo e o jardim das Hespérides são no mytho, um mesmo e unico paix, assim tambem a laranja, o portogallotto e a maçã das Hespérides, são na linguagem mythica um unico e mesmo fructo. Os gregos como os piemonteses, chamam ás laranjas πορτογαλιά os albaneses protokale e os proprios kurdos portoghal.
Como explicar tal denominação? Será porque as laranjas são melhores e mais abundantes em Portugal do que em qualquer outra parte? Não, mas é porque foi de Portugal que a cultura da laranjeira se propagou na Europa.
O jesuita Le Comte, que viveu muitos annos na China, na segunda edição das suas Nouveaux mémoires sur l'état présent de la Chine (Paris, 1697, tom. I, pag. 173), dá-nos a seguinte e curiosa informação: «Chamam-lhe em França laranjas da China, porque as que vimos pela primeira vez tinham sido trazidas d'alli. A primeira e unica laranjeira da qual dizem provieram todas, existe ainda em Lisboa na casa do conde de S. Lourenço; é aos portuguezes que devemos um fructo tão excellente».
A longa e angustiosa peregrinação da Virgem para fugir com o divino filho aos que o queriam assassinar deu origem a grande numero de lendas, muitas das quaes se referem aos vegetaes, pertencendo a esse numero a que apresentamos relativa á laranjeira.
A sagrada familia veio descançar uma tarde á sombra de uma laranjeira guardada por um cego. A Virgem pediu ao cego uma laranja para dar ao filho e aquelle respondeu-lhe que colhesse quantas quizesse pois todas eram d'ella. Então a Virgem colheu tres, uma para o Christo, outra para si e a terceira para S. José. E em paga da caridade do cego restituiu-lhe a vista.
Os escoceses fizeram do cardo planta nacional em virtude do seguinte e lendario facto:
Nas cruas guerras que em tempos immemoriaes a Escocia sustentou com a Dinamarca, uma noite, em que o exercito escocez fatigadissimo dos combates diurnos dormia descansadamente proximo da mar, os dinamarqueses desembarcaram e, caminhando cautelosamente, estavam prestes a surprehendel-os quando um soldado dinamarquez, tendo inadvertidamente calcado um cardo, picou-se tão valentemente que não pôde deixar de soltar agudo grito, que fez acordar os escocezes e permittir-lhes que podessem derrotar o inimigo obrigando-o a reembarcar em fuga desordenada.
A maçã é um simbolo da geração e da immortalidade.
Sapho compara a virgem á maçã a quem todos desejam emquanto está na arvore, mas que já ninguem a quer quando cae ao sólo velha e pôdre.
Na Sicilia, no dia de S. João, cada rapariga casadoira atira para a rua uma maçã e fica á espreita a ver quem a apanha. Se fôr um homem é signal de que casará dentro de um anno, sendo uma mulher só d'ahi a mais de um anno, um padre então morrerá virgem, e se os viandantes passarem sem fazer caso do fructo é prova evidente de que casando enviuvará.
No Montenegro as noivas antes de entrarem para a nova casa que vão habitar, atiram-lhe para o telhado uma maçã; se esta ficar no telhado o casamento será abençoado com muitos filhos e se rolar vindo caír no sólo é porque a felicidade não sorrirá á noiva nem ella terá filhos.
A lenda da maçã colhida por Eva e comida de sociedade com Adão, e que foi causa da perda da immortalidade, dando-lhe o conhecimento do bem e do mal e com elle o trabalho e a fadiga, é uma lenda puramente phallica, simbolisando a geração origem dos maximos praseres e das maiores amarguras.
Na lenda biblica Eva colhe a maçã, mas nas lendas indianas, d'onde claramente foi aproveitada, o fructo colhido pela primeira mulher e compartilhado pelo primeiro homem, é um fructo rico em sementes, ora a romã, ora a laranja, o figo e a maçã.
Relativamente á maçã ha tambem uma lindissima lenda christã. A Virgem Maria procurava adormecer o seu divino filho que, chorando, não lhe queria socegar no cólo. Então a Virgem, para o entreter, dá-lhe duas maçãs que Jesus brincando atirou aos ares, transformando-se logo uma na lua e outra no sol que nos alumia e aquece.
A figueira da India (Ficus religiosa) é venerada na India principalmente pelos sectarios de Buddha, não a cortando nem lhe tocando nunca com ferro, para não offender o Deus n'ella occulto.
Não só a arvore é adorada mas tambem o local onde alguma viveu é considerado local sagrado. A veneração dos indios pelo ficus religiosa, é devida á seguinte lenda:
Buddha, apóz a conversão, ia sempre orar sob aquelle vegetal; a rainha, sua esposa, despeitada por aquelle facto, mandou cortar a arvore, e Buddha, quando o soube, sentiu tamanho desgosto que declarou que se a arvore não tornasse a rebentar morreria de pesar. Mandou depois reunir cem bilhas de leite e regar com elle o tronco do vegetal, donde logo brotaram ramos, que cresceram rapidamente, attingindo a altura que hoje téem.
No numero 4, vol. VI, outubro de 1889 da Revista de Guimarães, o dr. Abilio de Magalhães Brandão descreve-nos assim a poetica lenda das maias:
«Houve antigamente um rei chamado Herodes que ao saber que tinha nascido, em Belem, um menino, a que o povo, por toda a parte, chamava o rei dos Judeus, tão furioso ficou que ordenou immediatamente aos seus soldados que degolassem todas as creanças menores de dous annos, que encontrassem em Belem.
Herodes presumia que o rei dos Judeus não escaparia d'esta carnificina,—tal era o odio de morte que votava ao menino—que os prophetas tinham vaticinado rei de Israel. Ao anoutecer do dia 30 de abril, cercaram os judeus os muros de Belem, mas esperaram pela madrugada do dia 1.º de maio para começarem a dar cumprimento ás ordens do malvado rei. Apesar de todas as providencias e cautelas, ainda receiavam os judeus que lhes escapasse o menino e por isso se informaram logo da sua morada—que tinha á porta um ramo de maias como signal,—mas, ao romper do sol do 1.º de maio, todas as casas appareceram milagrosamente com os mesmos ramos á porta.
Os judeus ficaram tão furiosos que entraram logo em todas as casas e degolaram todos os meninos, como tinha ordenado Herodes, e só escapou o que procuravam, porque seus paes, José e Maria, tinham fugido com elle, ainda de noute, para o Egypto.
Um judeu, que viu passar a mãe do menino, a cavallo n'uma jumentinha, ainda lhe perguntou o que levava nos braços, envolto no manto com que se cobria, ao que ella respondeo: «Levo meu filho!» mas o judeu retorquiu: «Se o levasses não o dirias». E d'este modo, e pelo milagre das maias, salvou-se milagrosamente o rei dos judeus».
Os povos orientaes consideram a abobora como o imperador dos vegetaes; é tambem para elles o emblema da saude pelo seu bello e rotundo aspecto e da fecundidade pelo numero extraordinario de sementes que possue.
A abobora tem dado origem a muitas lendas, e d'entre aquellas de que temos conhecimento, aproveitamos as duas mais curiosas e principaes, de que as restantes não são mais que incorrectas variantes.
Houve tempo em que os lobos não eram carnivoros, mas sim se sustentavam de fructos. Um dia uma porca, procurando alimento, encontrou uma enorme abobora e fazendo-lhe um pequeno orificio, começou a comer-lhe o interior. N'isto vê ao longe um corpulento lobo, e cheia de susto, pois aquelle animal andava em guerra aberta com ella, e sempre que a encontrava, não deixava de a mimosear com uma dentada, escondeu-se dentro da abobora. O lobo encontrando tão bello manjar dispoz-se a devoral-o sem mais cerimonia, mas a porca que estava escondida dentro, cheia de susto, fez desenvolver com os excrementos que expelliu um tão insupportavel fetido, que o lobo, julgando a abobora pôdre, fugiu a toda a pressa e tão nauseado ficou que desde então não mais quiz os vegetaes começando a regalar-se com a carne dos animais que podia caçar.
A segunda lenda—lenda americana—explica assim o diluvio.
Jaià um homem muito poderoso e forte tinha um filho unico que lhe morreu de repente. O pae, querendo dar-lhe uma sepultura differente da de todos os outros humanos, metteu-o dentro de uma enormissima abobora que foi depor no cimo de elevado monte. Dias depois, cheio de saudades pelo filho estremecido, quiz contemplal-o mais uma vez e partiu para o local onde depozera a abobora, mas ao tocar-lhe saíram-lhe de dentro enorme quantidade de peixes e diversos monstros marinhos. Jaià fugiu aterrado e veio narrar o caso para a sua aldeia. Quatro irmãos gemeos quizeram verificar o facto, e quando estavam a procurar mover a colossal abobora a fim de lhe examinar o conteúdo, chegou Jaià tão furioso pela violação a que ia ser sujeito o tumulo do filho que os quatro rapazes, aterrados, deixaram rolar a abobora pelo monte abaixo, e esta, batendo de encontro ás pedras que encontrou no caminho, fendeu-se sahindo-lhe do interior tal quantidade d'agua que toda a terra ficou inundada.
É o arroz symbolo da vida, da geração e da abundancia, representando por isso nas ceremonias nupciaes da India um grande e importante papel. Lá lançam o arroz sobre a cabeça dos nubentes, como entre nós se deitam flores e confeitos; é um prato de arroz o primeiro alimento que os esposos comem juntos, e é com arroz humedecido em manteiga e lançado ao fogo que, finda a ceremonia nupcial, impetram a protecção dos deuses para que os façam felizes e lhes dêem muitos e muitos filhos.
Logo que uma creança nasce, collocam-a em cima de um sacco cheio de arroz para a livrar dos maus olhados, e nenhum indiano tóca no arroz sem antes ter feito as suas abluções.
Para todos os sectarios de Buhdha é elle planta sagrada, destinada ás offerendas á divindade, e a ser servida nos banquetes religiosos e nas ceremonias funerarias.
A sementeira do arroz é feita na India com grande ceremonial religioso, com musicas e bençãos dos brahmanes.
Na China, por occasião das sementeiras, os padres fazem sacrificios ao fogo para que permitta que o anno seja fertil. Para isso andam com resas á volta de uma fogueira, tendo nas mãos um vaso cheio de arroz e sal de que lançam de tempos a tempos um punhado ao fogo. Aqui o fogo symbolisa o sol, que com o seu excessivo calor póde prejudicar inteiramente a producção do arroz que só se dá bem com um excesso de humidade, e é por isso que lhe imploram a sua protecção, o beneficio de uma menor intensidade dos seus raios seccadores.
Para os arabes tambem o arroz é sagrado. Crêem que elle nasceu de uma gotta de suor de Mahomet e que o Kuskussú, o querido manjar nacional fabricado com arroz, foi revelado a Mahomet por o anjo Gabriel. Mahomet, sempre que partia para a guerra ou tinha relações com qualquer mulher, comia antes um pouco de Kuskussú.
A mais curiosa das lendas do arroz é, porém, a lenda japoneza.
Conta-se no paiz do sol nascente que outr'ora, o unico alimento alli conhecido, era as raizes e as hervas. Porém um dia um bonzo viu um minusculo e formosissimo rato entrar n'uma cavidade proxima da sua habitação, arrastando uma pequenina espiga d'um cereal para elle desconhecido. Querendo saber d'onde viria aquella preciosidade, seguiu o rato, que o levou muito longe, a um paiz ignorado, onde todos os campos estavam cobertos de arroz e onde o bonzo aprendeu a cultival-o, introduzindo-o depois no seu paiz.
Foi d'aqui que nasceu a adoração das populações japonezas pobres, pelo rato, que conservam em casa mumificado, considerando-o como symbolo da abundancia.
Na Italia, assim como em França, Suissa e nos paizes do norte é o zimbro planta obrigatoria para a ornamentação das mezas de jantar, no santo dia do Natal.
A causa d'este antiquissimo uso vem da seguinte lenda:
Quando a Virgem fugia com o Filho aos crueis soldados de Herodes, esteve um dia quasi a ser agarrada, e deveu a salvação a um zimbro que os escondeu, cobrindo-os com os ramos, de fórma que os perseguidores passaram proximo sem os descobrirem. A virgem abençoou então o zimbro e disse-lhe que em recompensa do beneficio que lhe prestára, seria para sempre querido e estimado por toda a christandade, que o associaria annualmente á sua mais doce e sympathica festa.
A nogueira foi considerada pelos antigos como arvore sinistra e funeraria, sob a qual se reunem as feiticeiras, especialmente na noite de S. João, para celebrarem os seus horridos festins, ao passo que o fructo de tão má arvore foi sempre symbolo da abundancia e da geração.
Foi em cascas de nozes que, segundo uma lenda slava, escaparam ao diluvio os homens que depois repovoaram o mundo. Eram cascas de nozes os maravilhosos trens das boas fadas protectoras de nossos antepassados que—ai de nós!—para sempre desappareceram do mundo, e eram estes saborosos fructos os que se distribuiam outr'ora nas bodas como de feliz e prolifico agouro para os noivos.
Na Belgica, no dia de S. Miguel, as donzellas casadoiras abrem cuidadosamente algumas nozes, tiram-lhe o conteudo o collam depois as duas cascas vazias com todo o cuidado, de modo a parecerem intactas, e deitam n'um sacco um numero egual de nozes vazias e nozes cheias. Misturam-as bem, e depois, fechando os olhos, mettem a mão no sacco e tiram uma noz. Se acertam tirar uma cheia é signal de que casarão dentro de um anno, mas se acontece vir uma das vazias, então ainda téem que esperar muito pelo anciado marido...
Entre nós, especialmente no Porto, ha uns leves vestigios d'esta tradição. No dia de S. Miguel é costume, na cidade invicta, comer-se nozes com trigo, o que, dizem, dá a felicidade e a abundancia em casa. E á gente nova, á gente solteira, temos nós ouvido repetidas vezes dizer que «no dia de S. Miguel, nozes com regueifa sabe a casar»...
No sul de França creem que o meio infallivel de conhecer um feiticeiro é collocar-lhe uma noz debaixo da cadeira quando elle estiver sentado, pois não se poderá mais erguer do logar onde estiver emquanto não retirarem a noz. É d'aqui que os camponezes de Bolonha penduram uma noz ao pescoço dos filhos para os livrar de maus olhados. Tem para elles a noz o mesmo valor da nossa figa.
Para os judeus a arvore do bem e do mal era uma nogueira, e o fructo que Deus prohibira a Adão que comesse, uma noz.
Gubernatis conta-nos assim esta formosa lenda:
«Um dos nomes populares que na Russia se dá a esta planta é Tziganca (planta dos Bohemios) ou Zabii kruéa ou Sinii lomonos. A proposito d'este vegetal dizem, n'aquelle paiz, que outr'ora, quando os cossacos andavam em guerra com os tartaros, os primeiros, n'um combate encarniçadissimo, possuiram-se de tal terror, que começaram a debandar ante o inimigo, sem attenderem aos chefes, que os incitavam á resistencia. O hetman, não os podendo conter, desesperado, suicidou-se espetando a lança na cabeça. N'isto desencadeou-se uma tempestade medonha que, envolvendo os cossacos cobardes e traidores, os desfez em mil pedaços, misturando-os com a terra dos tartaros.
Pouco depois, do sólo, sepultura dos fugitivos, brotou a Clematis integrifolia. Mas as almas dos cossacos, que não tinham descanço por os corpos estarem sepultados na terra dos tartaros, tanto pediram a Deus, que este mandou semear a Clematis na Ukranie. E desde então, em memoria do facto, as donzellas cossacas enfeitam-se com grinaldas da Tziganka, que passou a ser uma planta nacional».
Pela facilidade da multiplicação, a semente da mostarda é entre os povos orientaes symbolo da geração.
Tambem serve o oleo da mostarda para a descoberta das feiticeiras. Para isto basta, segundo os Indús, encher um grande vaso de vidro com agua e derramar-lhe dentro o oleo gotta a gotta, pronunciando no momento da quéda de cada gotta na agua o nome de uma mulher. Se na occasião da quéda da gotta a agua se turva e n'ella se vê apparecer uma como sombra de mulher, aquella cujo nome coincidiu com o lançamento do oleo na agua é, sem a menor duvida, uma grande feiticeira.
A mais curiosa lenda, da India, relativa á mostarda, é a da fada Bakanali, onde claramente se frisa o valor gerativo d'este vegetal.
O deus Indra, em castigo de grave falta, transformou a fada Bakanali em estatua de marmore, condemnando-a a permanecer assim durante doze annos no templo de Ceylão.
O rei d'aquelle paiz, por um dos maleficos caprichos a que amiudadas vezes estão sujeitos os reis, arrasou o templo e reduziu todas as estatuas a pó. Dias depois, o local onde esteve o templo, appareceu todo coberto d'uma planta até então desconhecida.
Quando a planta deu semente, o jardineiro do rei extrahiu d'ella um oleo tão aromatico, que a rainha, a quem foi offerecido, quiz logo proval-o. Mal porém o chegou aos labios, ella, que era esteril, sentiu-se immediatamente gravida, e nove mezes depois deu á luz uma filha, que não era mais que a fada Bakanali, novamente recuperando a sua fórma terrestre.
D'uma brilhante chronica de Emygdio de Oliveira, publicada no jornal portuense Diario do Commercio, extrahimos a seguinte e deliciosa lenda sobre a tilia:
«O Porto é a cidade das tilias. Aposto que ainda não repararam n'isso! Que por toda a parte, pela beira do rio, no miradouro das Virtudes, na maior parte das ruas da cidade cresce, coberta de pequeninas flores doiradas, a arvore encantadora da tilia? Pois é verdade. Emquanto os senhores conselheiros municipaes se esforçam, dia e noite, sonhando e combinando, em fazer da nossa querida terra o foco de pestilencias, cubiçadas pelo microbio (o microbio é o Legrand do mundo fétido), a divina providencia, singelamente, n'um sorriso, como mulher que se entrega, sem lagrimas, sem phrases, sublimemente, persiste em fazer do Porto uma das mais bellas cidades da Europa, dando-lhe o mais esplendido céo azul escuro, a frescura salina das brisas do oeste e a prodigiosa vegetação de arbustos e de flores, de que ha memoria nas terras peninsulares.
Ah! como são bellas as tilias portuenses!
Pois de todas essas bellas tilias, a mais bella é a da Praça de D. Pedro. Eu gosto das creaturas audaciosas, e—confessem! confessem!—nascer, rebentar, estender-se para o céo, encher-se de folhas, ramilhetar-se de pequeninas flores perfumadas, n'uma elegante toilette pompadour, na Praça de D. Pedro—é o cumulo da audacia e do protesto contra o meio, mesmo em face do domus municipalis, que é o grande laboratorio das coisas sujas.
Depois... eu tenho uma intima e profunda sympathia pela legenda, pelos avatares do sentimentalismo antigo, cavalheiresco, cheio de crendices, á João V; e é graciosa a legenda da tilia da Praça de D. Pedro.
Dizem os pardalitos que se acoitam alli, de noite, que aquella arvore graciosa, tão cheia de encantamento e de aroma, nasceu na terrivel epoca, em que os visionarios da liberdade eram fatalmente assassinados no centro da Praça, a fradaria bebendo e fazendo toasts pelos desventurados que, como morriam de mais alto, viam até mais longe.
Um d'elles era um bello rapaz, de olhar ousado e scintillante, que tivera a audacia de chamar meretriz áquella mulher que vivera no regio palacio, conspirando contra a patria e contra o esposo, que era então rei de Portugal.
Foi enforcado. N'aquella noite de outubro, uma creatura celeste, depois de muitas allucinações e muitas lagrimas, caíu sobre o sólo, beijando uma gotta de sangue.
Foi n'esse mesmo logar que a primavera seguinte fez brotar, crescer, florir aquella gentilissima tilia, que todos os annos se cobre de lagrimas doiradas, como lagrimas de amante que se despede para outra vida, em noites de luar.
Ah! como eu amo as tilias».
A leituga foi considerada nos tempos antigos como planta nefasta, apreciada pelo demonio, que d'ella se servia para os seus maleficios.
Sonhar-se com leitugas, era signal certo de proximo e irremediavel dissabôr.
Alberto o Grande, no seu curioso livro De secretis mulierum diz que a leituga serve para conhecer, sem o menor engano, se uma mulher é ou não virgem: Accipe fructum lactucæ et pone ante nares ejus; si tunc est corrupta, statim mingit.
Esta planta servia-se outr'ora nos jantares funerarios em memoria da morte do filho de Myrrha; era tambem tida como causadora de impotencia.
Adonis, mancebo d'uma proverbial e extraordinaria formosura, nasceu do incesto de Cyniras, rei de Chypre, com sua filha Myrrha. Foi doidamente amado por quasi todas as deusas, especialmente por Venus e Prosérpina. Estando Adonis um dia a dormir n'um descampado, a deusa Aphrodite, que por alli passou, fez brotar á volta d'elle, para o resguardar dos ardores do sol, um massiço de leitugas.
Um corpulento javali, attrahido pelas leitugas, começou a devoral-as sofregamente, pisando e ferindo tão cruelmente o bello Adonis que elle morreu pouco tempo depois.
Jupiter, o rei dos deuses, condoído dos choros de Venus, deu novamente a vida a Adonis, mas Prosérpina, rainha dos infernos, só accedeu a isto com a condição de que elle passaria seis mezes do anno em sua companhia e outros seis na de Venus.
Venus, porém findos os seis mezes não o quiz restituir a Prosérpina, o que originou grande discussão entre os deuses, e então Jupiter ordenou que Adonis pertencesse quatro mezes a Venus, quatro a Prosérpina e ficasse livre os restantes quatro.
A oliveira representou sempre importante papel nas crenças populares antigas. A oliveira era o simbolo da paz e da abundancia. Foi um ramo de oliveira que a pomba trouxe para a arca, a Noé, em signal de as aguas já se terem afastado da terra, e a paz estar feita entre Deus e os homens. Era com corôas feitas de ramos de oliveiras e de louro que se enfeitavam os vencedores dos jogos olimpicos e os guerreiros victoriosos.
Em quasi toda a Europa meridional substituem no domingo de Ramos as folhas de palmeira por ramos de oliveira, e crêem que estes, queimados em occasião de temporal, abrandam a furia dos elementos desencadeados e livram do raio. Nos Abruzzos, no dia de S. Marcos, vão plantar no meio dos campos um ramo de oliveira, na esperança de boa colheita e de os livrar do granizo e das inundações.
Diziam os antigos que as feiticeiras e o diabo não podiam entrar na casa onde houvesse ramo de oliveira abençoado pelos padres.
As leis athenienses castigavam severamente todo aquelle que fizesse mal ás oliveiras, ou se servisse da sua madeira para o lume.
Em Ombria e na Terra de Otranto as raparigas que querem saber se chegarão a casar vão, no dia de Pascoella, nuas, colher um ramo de oliveira. Chegadas a casa tiram uma folha, humedecem-a com saliva e lançam-a ao fogo pronunciando o seguinte:
Si me vuo' bene, salta salticchia,
Si me vuo' male stá fissa fissa.
Se a folha saltar tres vezes ou se voltar no fogo é signal de que hão-de casar. Se a folha arder sem fazer o menor movimento podem perder completamente a esperança de encontrar marido.
Na Italia meridional as noivas, no dia do casamento, quando recolhidas no quarto, batem levemente no marido com um ramo de oliveira em signal de que no quarto de cama quem manda é a mulher.
Na Grecia antiga acreditava-se que a oliveira devia o nascimento a Minerva a deusa da sabedoria.
Discutindo Neptuno e Minerva qual daria o nome a uma cidade fundada por Cecrops, os deuses chamados para resolver a questão, determinaram que seria aquelle que fizesse a mais util creação para os humanos. Neptuno batendo na terra com o tridente, fez d'ella sahir um cavallo e Minerva, ferindo o sólo com a lança, fez apparecer uma oliveira carregada de fructo. Os deuses decidiram a contenda em favor de Minerva que deu á cidade o nome de Athenas.
Uma lenda allemã diz que a oliveira brotou da sepultura do primeiro homem, de Adão, e que foi do tronco da oliveira que os hebreus fabricaram a cruz em que pregaram Christo.
Tambem ha uma lenda grega que diz que foi da oliveira e não do carvalho que nasceu da maça de Hercules, e uma lenda hebraica narra que procurando as arvores um rei dirigiram-se primeiro á oliveira que não acceitou, por isso que não queria perder os seus bellos fructos sacrificados ás canceiras da realeza, depois á vide e á figueira que por motivo identico recusaram tambem, e por ultimo ao carvalho, que acceitou.
O azeite, extrahido do fructo da oliveira era venerado pelos antigos. Os athenienses esfregavam o corpo com azeite para conservar a belleza da pelle, e os christãos fizeram d'elle o oleo santo que applicam aos moribundos como simbolo da vida eterna.
A oliveira era para os antigos a arvore da vida por isso que produzia o azeite, que arde nas lampadas, conservando a luz durante a noite, a luz a origem de toda a vida terrestre.
O myosotis (Hieracium pilosella) a deliciosa florsinha das margens dos regatos, a Nontiscordar di me dos italianos, a Vergissmeinnicht dos allemães, e a Oreja de raton dos hespanhoes, tem sido cantada pelos poetas de todos os tempos e apreciada por todos os povos, que lhe dedicam particular e especial estima.
E na verdade a bella flôr de um azul tão doce e tão suave, de uma côr de que ella quasi que guarda o exclusivo em todo o reino vegetal, merece o apreço em que é tida pela sua excepcional formosura, que modestamente esconde entre a larga vegetação das margens dos regatos.
É a flôr dos namorados, que como ella procuram a solidão, os logares cheios de sombras e de serenidade para trocarem as suas intimas confidencias, as suas apaixonadas caricias amorosas.
Uma antiga ballada italiana narra da seguinte fórma o apparecimento do myosotis no nosso globo.
Um pobre camponez ao vêr-se atraiçoado pela noiva que o trocou por outro mais rico e que mais lhe podia proporcionar os gosos que ambicionava, afogou-se de pezar.
As aguas do rio balouçaram durante dias o corpo do desditoso e as nimphas condoídas da sorte do infeliz, tão novo e tão formoso, imploraram para elle a protecção dos deuses. Levantou-se então enorme temporal e as aguas arremessaram para longe de si o cadaver retido, que ao tocar na margem, foi immediatamente metamorphoseado nas bellas flores com que as nymphas depois constantemente se enfeitaram.
O myrtho foi consagrado a Venus e a Minerva. Venus, após o nascimento, tendo-se na ilha de Chypre envergonhado da sua nudez, escondeu-se atraz de um myrtho, adoptando-o depois em signal de reconhecimento, como planta bem amada.
Minerva e a nympha Myrsiné desafiaram-se um dia a vêr qual era mais veloz na carreira. Venceu Myrsiné e Minerva despeitada, transformou-a em myrtho, planta com que em seguida se enfeitou para constantemente recordar o ultrage de que fôra victima.
Na Grecia e em Roma antiga coroavam com myrtho os recem-casados, por isso que na sua qualidade de planta dedicada a Venus, a deusa do amor, não só tinha a virtude de fazer nascer um violento amor no coração dos esposos mas tambem de o conservar constante por toda a vida.
Este uso ainda está ao presente em vigor em algumas localidades da Europa central, especialmente na Allemanha.
Em todo o imperio romano era prohibido, sob severas penas, colocar ramos de myrtho nos altares da Bona Dea, por isso que o myrtho fazia recordar aos fieis os gosos materiaes que no logar sagrado deviam ser completamente esquecidos.
O pinheiro é simbolo da geração e da immortalidade.
Da geração pela fórma do fructo que os antigos pensavam representar uma parte do corpo de Atys, sacerdote de Cybele, que violando o voto de castidade feito á deusa, mutilara-se, sendo em seguida transformado por Cybele em pinheiro.
Da vida eterna por causa da folhagem sempre verde, mesmo sob as maiores neves, da solidez da madeira e por fructificar em pleno inverno.
Na Russia enfeitam as mesas dos banquetes nupciaes com ramos de pinheiro e no Japão os noivos bebem tres pequenas taças de saké diante de um pinheiro, que significa a fidelidade conjugal e a perpetuidade do genero humano, a imagem de um grou simbolo tambem da fidelidade, a de uma tartaruga como desejo de longa vida, pois os orientaes acreditam que este chelonio vive dous mil annos, e de um grupo representando um velho e uma velha, secularmente celebres por causa do intenso amor e da harmonia em que vireram durante toda a longa vida.
A resina do pinheiro é empregada desde tempos immemoriaes como o melhor remedio para as doenças pulmonares, e dos fructos do pinheiro extrahiam tambem os gregos e os romanos um remedio afamado para o mesmo fim.
Os vinhos eram outr'ora conservados por meio de resina e de pinhas que deitavam de infusão nas vasilhas onde elle era guardado.
Ha na Roumania uma lenda que diz que morrendo de pesar dois amantes violentamente separados pelas respectivas familias, e sendo sepultados no mesmo cemiterio foram transformados um em pinheiro e outro em vide, continuando a enlaçar-se ternamente mesmo depois da morte.
O christianismo consagrou tambem o pinheiro. É a arvore empregada de preferencia na noite de Natal, a arvore querida e amada pelos povos do norte que a vêem verdejante e cheia de fructo na epocha em que as neves fazem desapparecer a vegetação da superficie da terra.
Parece que o uso do pinheiro como arvore do Natal vem da seguinte e poetica lenda:
Quando a sagrada familia fugia á perseguição de Herodes, apertada de perto pela soldadesca, chegou a um descampado onde havia apenas um pinheiro de quem a Virgem, chorosa, supplicou protecção.
A arvore, compadecida, curvou os ramos até ao sólo e escondendo Jesus no centro de uma larga pinha retomou a primitiva posição natural. Passado o perigo Jesus abençoou a boa arvore, dando-lhe não só a particularidade de vegetar em todos os terrenos e resistir a todas as intemperies, mas tambem permittindo-lhe que em recordação da sua demorada estada na pinha esta conservasse, para sempre, no interior o signal da divina mão que a abençoara.
Polydoro, filho de Priamo e de Hecuba, foi morto após o cerco de Troya por Polymnestor, ancioso de se apoderar das immensas riquezas que Polydoro possuia.
Depois de morto, Polydoro foi transformado em pilriteiro, e quando se cortava algum ramo ao vegetal corria logo sangue da parte contundida em signal do triste facto que elle simbolisava.
O diabo queixou-se um dia a Christo de que tendo ajudado Deus a crear o mundo nada recebera em paga dos seus trabalhos.
A queixa sendo achada justa, Christo deu-lhe em paga o milho e a aveia.
O diabo partiu saltando de contente, porém no caminho, com a alegria, esqueceu-se do nome das plantas que lhe tinham sido dadas.
S. Pedro e S. Paulo a saberem da liberalidade de Christo lastimaram que tivesse feito ao diabo uma tão importante dadiva.
—Agora o que dei, está dado, não o posso tornar a tirar, disse Christo.
—Pois bem, replicou S. Paulo, vou fazer com que o diabo fique sem os bons vegetaes em troca de outros maus.
E partindo a toda a pressa sahiu ao encontro do diabo. Este ia triste e cabisbaixo procurando lembrar-se das plantas que Christo lhe déra.
—Que tendes, perguntou S. Paulo?
—Christo deu-me dous vegetaes e eu não me lembro quaes são.
—Eu sei, replicou S. Paulo, um é a canna...
—É verdade, é a canna, atalhou o diabo esfregando as mãs de contente, mas o outro?
—O outro é a serralha.
—A serralha, a serralha, uivou o diabo, que fugiu sem dar os agradecimentos a S. Paulo, que d'esta fórma conseguiu livrar do poder do diabo dous dos mais uteis vegetaes dando-lhe em troca outros de insignificante valor.
A mangerona (Origanum majorana L.) é a amarakos dos gregos. Os romanos serviam-se da mangerona para tecer corôas aos recem-casados e em Creta esta planta é ainda hoje o simbolo da honra, tendo a virtude de afugentar das mulheres os mal intencionados seductores.
A lenda da mangerona é uma lenda grega. Amaracus era um favorito do rei de Chypre que este estimava immenso e a quem confiava serviços da maior confiança e da mais alta responsabilidade.
Um dia encarregando-o o rei de lhe trazer um precioso vaso cheio de perfumes, Amaracus deixou-o cahir no sólo onde se fez em pedaços.
Cheio de pesar e de susto pelo mal causado, cahiu com uma violenta sincope e então os deuses amerciados da sua grande e irremediavel dôr transformaram-o n'uma planta odorifera que ficou tendo o nome do desastrado Amaracus.
Gubernatis escreve o seguinte do linho:
«A antiguidade indiana via no céo, na alva e na aurora, uma teia luminosa; a esposa divina, a aurora, tecia a camisa nupcial, o vestido do esposo divino, o sol. Os deuses vestiam-se com uma veste luminosa, d'um tecido branco ou vermelho, de prata ou de oiro. Os padres, na terra, adoptaram o mesmo costume branco na India, no Egypto, na Asia Menor, em Roma e nos paizes christãos, chamando-se ainda hoje alva á camisa branca dos padres e dos meninos de côro.
O linho era de tal fórma estimado no norte que, até ao seculo XII, na ilha de Rugen, servia de moeda.
«Apud Ranos, escrevia Helmold, I, 38, 7, citado por Hehn (Kulturpflanzen u. Hausthiere, Berlin, 1874) non habetur maneta, nec est in comparandis rebus consuetudo nummorum, sed quidquid in foro mercari volueris, panno lineo comparabis».
Güldenstadt, no seculo passado, deparou ainda com uso identico no Caucaso. Nos contos populares falla-se muitas vezes de camisas ou vestidos tecidos com fios tão extraordinariamente finos, que podiam ser guardadas dentro da casca de uma noz. Hérodoto e Plinio mencionam um linho enviado da Grecia por o rei Amasis, cujo fio era composto de 360 ou 365 fios, allusão evidente aos dias do anno.
Na canção popular veneziana do grillo e da formiga, o grillo fia linho e a formiga pede-lhe um fio evidentemente para continuar a fiar, pois os dois animaes figuram na mitologia zoologica em estações differentes. Os fios de linho são tidos como representando os raios do sol, e segundo uma superstição popular siciliana, attrahem-os tambem.
Em Modica, na Sicilia, escreve o snr. Amabile, para fazer desapparecer as dôres de cabeça produzidas pela insolação, queimam, com acompanhamento de imprecações, estopa de linho n'um copo onde depois se deita agua; colocam em seguida o vidro n'um prato branco e este sobre a cabeça do doente; pretendem que, d'este modo, fazem desapparecer da cabeça e passar para o linho toda a doença causada pelo sol.
No Valle Soana, no Piemonte, acreditam que vêr em sonhos, linho mergulhado na agua é um aviso de morte por todo o anno.
O linho é simbolo da vida, da vegetação facil e abundante. É por isso que na Allemanha, quando uma creança cresce vagarosamente ou lhe custa a andar, na vespera do dia de S. João, a colocam núa no sólo, semeando-lhe linho em redor, e logo que o linho principiar a rebentar deve a creança começar a crescer e a andar».
O platano era particularmente venerado na Grecia, sendo consagrado ao genio. Era sob os platanos que se reuniam os sabios gregos para discutirem os mais transcendentes assumptos, e sob elles que especialmente se abrigavam da chuva.
A formosa Europa, dormia sob um platano quando foi roubada por Jupiter metamorphoseado em touro.
Xerxes atravessando a Lydia, apaixonou-se tanto por um corpulento platano que o fez ornamentar de custosos collares e braceletes d'ouro.
Na Grecia quando alguns noivos se separam trocam, em signal de fidelidade, duas metades de uma mesma folha de platano, e quando se tornam a encontrar apresentam-as, devendo as duas partes formar perfeitamente a primitiva folha. Se isto se não dér é porque aquelle cuja metade estiver defeituosa foi infiel durante a ausencia.
Diz Gubernatis que os druídas tinham o trevo em grande veneração, e que S. Patricio para explicar o misterio da Trindade aos irlandezes se servia de trevo, mostrando-lhes as tres folhas do vegetal n'uma mesma haste.
Em França, Italia, Hespanha, e mesmo entre nós, o povo estima e venera particularmente o trevo de quatro folhas e crê que a pessoa que encontrar uma d'estas plantas, sendo mulher, casará dentro de um anno e, sendo homem, terá no mesmo espaço de tempo grandes felicidades.
Aproveitamos do distincto sabio inglez, Brueyre a seguinte e deliciosa lenda metereologica relativa ao trevo:
«N'uma tarde de verão, uma rapariga veio mugir as vaccas mais tarde que o costume, e as estrellas começavam a scintillar no firmamento, quando ella terminou a tarefa. Daisy, uma vacca encantada, era a unica que faltava para mugir, mas o cantaro estava tão cheio, que a rapariga deixou-a sem lhe tirar o leite.
Antes de pôr o cantaro á cabeça a rapariga cortou um punhado de hervas differentes entre as quaes ia muito trevo, e com ellas fez uma almofada para levar mais commodamente o cantaro.
Porém logo que colocou a almofada na cabeça viu centenas, milhares de pequeninos trasgos correndo de todos os lados para a vacca, que estava deitada no sólo, e agarrarem-se-lhe ás têtas, que mugiam em flores de trevo, sugando-as depois com delicia. As hervas que estavam junto as têtas de Daisy cresciam a olhos vistos, cercando por todos os lados a corpulenta vacca, e os trasgos corriam por entre ellas, levando bem-me-queres, verdeselhas, flores de digitalis e flores de trevo onde recolhiam o leite que corria das quatro têtas ao mesmo tempo, como abundante chuva da primavera. Sob uma das têtas a rapariga viu um trasgo maior que os outros, que, para se banquetear mais á vontade, se tinha deitado de costas, ficando os pés no ventre do animal, e com a têta agarrada nas mãos sugava avidamente.
Chegando a casa a rapariga narrou o que tinha visto e todos foram concordes que ella devia, para que tal facto se desse, ter entre as hervas que collocara na cabeça trevo de quatro folhas, o que na verdade tinha acontecido».
A vida de Jesus e principalmente a sua perseguida infancia deram origem a um grande numero de lendas de uma doce poesia cheia de belleza e de encanto.
Já demos conta de algumas, e as que agora apresentamos, verdadeiramente encantadoras, são inspiradas pelo mesmo assumpto—a fuga da Virgem á perseguição das gentes de Herodes.
A Virgem e S. José fugindo com o filho á matança dos innocentes, passou por um campo onde muitos lavradores estavam atarefados a semear centeio.
Que semeaes, perguntou a mãe de Jesus?
Pedras, responderam elles.
Pois pedras vos nasçam; d'aqui a tres dias vinde quebral-as.
Mais adeante encontrou novo grupo de aldeãos na mesma faina.
Que semeaes?
Semeamos centeio para nosso sustento.
Pois centeio vos nasça, replicou a Virgem, d'aqui a tres dias vinde segal-o.
Passados tres dias estava o campo dos maus lavradores transformado em enorme penedia e o dos que tinham sinceramente respondido ás perguntas da Virgem, coberto de louras messes. Cheios de jubilo pelo milagre, que reconheciam, os lavradores segavam atarefadamente o centeio, quando chegaram os soldados de Herodes, que andavam em perseguição de Jesus, e perguntaram aos ceifadores te tinham visto passar por alli uma mulher a cavallo n'uma jumenta, com um menino ao colo e acompanhada de um homem já velho.
Passou, responderam os segadores, quando estavamos a semear o centeio n'este campo.
Então os soldados, imaginando que o centeio tinha crescido naturalmente, desanimaram, e deixaram de continuar a perseguição, pelo que Jesus pôde escapar á furia dos seus perseguidores.
Liga-se ao mesmo facto da lenda anterior—a perseguição de Jesus pelos soldados de Herodes—a lenda da silva e dos tremoços, lenda muito conhecida no norte do paiz, onde a ouvimos a grande numero de pessoas.
A Virgem acossada de perto pela soldadesca, chegou proximo de um campo de tremoços em frutificação. Atravessando-o rapidamente, os tremoços, ao contacto dos corpos, fizeram um grande ruido que denunciou aos perseguidores o caminho seguido pela desolada mãe.
No fim do campo estendia-se um enorme silvado, uma insuperavel barreira que ia sem duvida reter os fugitivos e fazel-os cahir em poder dos judeus.
Porém as silvas ante as lagrimas e o desespero da mãe de Deus, desviaram-se abrindo caminho á sagrada familia, e logo que todos passaram tornaram a unir-se entretecendo-se mais fortemente, de modo que ao chegarem os soldados junto d'ellas, voltaram para traz e seguiram outro caminho, acreditando que a Virgem não podéra transpor o emmaranhado silvedo que os retinha.
A Virgem passado o perigo abençoou as silvas a quem deu a faculdade de vegetarem em todos os terrenos, produzirem fructos saborosos, ficarem defendidas por agudos espinhos dos ataques de todos os inimigos, e amaldiçoou os tremoços dando-lhes um travor semelhante ás amarguras que elles com o seu indiscreto barulho lhe tinham causado, e condemnando-os a nunca podêrem saciar pessoa alguma.
O lotus é uma planta sagrada para os indianos e para os egypcios.
No Egypto chamam á flôr do lotus flôr do Nilo, por isso que, quando o rio trasborda, nas cheias periodicas que são a fertilidade d'aquellas regiões, a superficie das aguas cobre-se completamente de lotus em flôr.
É por isso que os egypcios representam a creação por uma immensa superficie de agua sobre a qual fluctua um lotus collossal. Creem elles que no principio o mundo esteve todo coberto d'agua, d'onde brotou um lotus que, estendendo-se sobre o liquido, o cobriu completamente; dando a tudo a luz e a vida.
É tambem, portanto, o lotus um simbolo da geração espontanea.
A flôr de lotus é dedicada a Osiris, Wishnou e sobretudo a Brahma.
Conta uma lenda indiana que Brahma sahiu de um lotus nascido sobre o umbigo de Wishnou.
A mulher de Wishnou, a formosa das formosas, a maravilhosa belleza oriental, é sempre representada nos templos, sentada sobre uma flor de lotus.
A poesia oriental está cheia de referencias ao lotus, comparando-o a todas as partes do corpo humano. Um poeta indiano referindo-se aos olhos da sua amada que lhe realçam a belleza do rosto, diz que sobre uma flôr de lotus brotaram outras duas bellas flores eguaes.
As indianas adoram apaixonadamente a flôr de lotus apesar da particularidade que lhe attribuem de fazer acalmar o ardor das paixões.
Parece que esta mesma crença era corrente no Egypto antigo, e que é devido a ella o terem sido encontradas flores de lotus cobrindo as partes sexuaes das mumias.
Outr'ora, nos sacrificios indianos, o sangue do sacrificado era sempre recolhido sobre petalas de lotus; os primeiros christãos dedicaram tambem o lotus á Virgem ornamentando-lhe os altares exclusivamente com estas flores.
Para os gregos o lotus é o simbolo da belleza e as donzellas de Athenas, nos dias de festa, enfeitam-se de preferencia com flores de lotus.
Segundo uma antiga lenda grega, uma nimpha apaixonou-se doidamente por Hercules. Vendo que não podia alcançar ser correspondida pelo grande heroe, atirou-se a um rio, onde morreu afogada.
Jupiter, compadecido das desditas da enamorada nimpha, transformou-a na brilhante flôr do lotus.
Diz uma lenda buddhica que o rei Pandu, n'uma guerra que sustentou com vassalos seus adoradores de Buddha, que se tinham revoltado contra a sua soberania, se apoderou do templo principal onde era preciosamente guardado, em luxuoso altar, um dente do grande deus indiano. Pandu, para provar o seu poderio, mandou triturar o dente e lançar os fragmentos a uma grande fogueira, para que ficassem completamente consumidos. Porém, mal os restos do dente cahiram sobre o fogo, este extinguiu-se completamente, brotando logo do centro da fogueira uma enorme flôr de lotus, no interior da qual foi encontrado intacto o dente de Buddha.
Pandu, assombrado por este milagre, converteu-se a buddhismo sendo depois um dos mais fieis e ardentes sectarios da magestosa divindade indiana.
A mitologia conta-nos tambem que a nimpha Lotis, sendo perseguida por Priapo, foi transformada em Lotus, escapando assim ao dissoluto deus.
Esta lenda parece ter sido imitada da seguinte antiquissima lenda indiana, que encontramos publicada no Jornal de Viagens:
Havia em Ellora um sabio brahmane que tinha uma formosa filha, a gentil Hevah, a dos olhos de esmeralda.
Um dia que ella tinha ido ao templo subterraneo, onde se adora o senhor dos mundos, o divino Brahma, e que estava em oração com os olhos fitos na imagem do auctor dos dias, fallou-lhe assim o divino Brahma:
«Ó minha bem amada. As meninas dos teus olhos são como duas flores de lotus que se abrem na superficie esmeraldada dos lagos».
Do rosto do deus jorrava uma claridade divina; Hevah tocou a terra com a fronte, e não se atrevia a olhar.
E Brahma repetiu:
«As meninas dos teus olhos são como duas flores de lotus que se abrem na superficie esmeraldada dos lagos».
E Hevah que nunca ouvira a ninguem aquellas frases, continuava, pudica, de rojo, ante o divino senhor dos mundos.
Porém, eis que Brahma repete terceira vez aquella phrase de amor.
Hevah, então, levantou a fronte do pó, cobriu o rosto com o veu e fugiu do templo; e foi mirar-se na superficie do lago; e entrou pelo remanso das verdes aguas.
Dormiam os saurios o somno da sesta. E as garças reaes, dormitavam n'um pé só, sobre o dorso dos grandes reptis.
E eis que de repente ella sentiu que os seus pés tomavam raiz; e que os seus braços se lhe tornavam duas enormes folhas verdes; e que os olhos se lhe desabrochavam em dous formosos nenuphares; e ouvia-se a voz de Brahma:
«Os teus olhos, ó minha bem amada, são como duas flores de lotus que se abrem na superficie esmeraldada dos lagos».
A sensitiva, a Mimosa pudica dos botanicos, é uma das plantas que mais téem sido discutidas e das que até hoje mais despertaram a attenção não só dos homens da sciencia mas tambem de todos os profanos, pelos curiosos movimentos das suas folhas.
As sensitivas são dotadas de movimentos espontaneos e movimentos provocados.
Ao cahir da tarde os foliolos começam a pender a unirem-se uns aos outros, dispondo-se para o somno nocturno.
São os movimentos espontaneos.
Este somno póde ser provocado artificialmente colocando a planta na obscuridade. A falta de luz faz com que o phenomeno acima apontado se produza logo nas suas folhas.
Os movimentos provocados são porém de todos os mais curiosos e os que deram o nome e fama á planta. Basta que um pequenino insecto pouse em qualquer dos foliolos da sensitiva, ou que se toque n'elle com um corpo estranho, para o foliolo se comprimir immediatamente e apoz elle os outros proximos, movimento que se propaga ás folhas de todo o ramo e até ás de todo o vegetal, se o contacto do corpo estranho fôr violento ou demorado.
Estes movimentos estão em relação directa com o desenvolvimento e vigor da planta.
Quanto mais a planta é forte e robusta tanto mais os movimentos são accentuados e demorados.
Uma forte corrente d'ar, uma violenta trepidação do sólo, uma obscuridade repentina do sol é o bastante para o apparecimento d'estes movimentos.
As excitações muito frequentes desorganisam porém o sistema nervoso da sensitiva e fazem-a rapidamente morrer.
A Mimosa pudica foi conhecida dos antigos, a quem muito impressionou a sua mobilidade. Escriptores gregos e romanos trataram repetidas vezes d'esta interessante leguminosa, e poetas varios cantaram-a enthusiasticamente.
É de um d'elles que aproveitamos a lenda que segue:
A nimpha Mimosa era tão casta e tão pura que apesar de estar para casar com o pastor Iphis nunca consentira que elle lhe tocasse com os dedos sequer. Na vespera do dia em que devia ser para sempre unida ao eleito do seu coração, encontrou-se por acaso com elle no centro de um copado bosque. Iphis ao vêl-a tão seductoramente bella perdeu a cabeça, e quiz estreitamente unil-a de encontro ao coração. Mimosa conhecendo que não podia fugir ao doce amplexo do seu apaixonado, ficou tão tremula e aterrada, e implorou tão desesperadamente o deus Hymineu, que, este, compadecido, a transformou logo na planta que ainda hoje ao ser tocada por mão profana reproduz a extrema sensibilidade da casta nimpha.
O melão em virtude das suas numerosas sementes e por se multiplicar com extrema facilidade, era tido pelos antigos como simbolo da geração. Segundo uma lenda arabe vegeta no paraizo onde significa que Deus é um só e Ali o seu propheta. Esta significação vem-lhe de n'um só todo reunir sementes innumeraveis que vão depois reproduzil-o por toda a eternidade. É como o propheta Ali que em si encerra toda a sabedoria e doutrina religiosa que lhe foi inspirada por Deus, para que por toda a eternidade a transmittisse aos miseros mortaes.
A mais formosa lenda relativa a este saborosissimo fructo, por nós conhecida, é a seguinte, muito popular ainda hoje na Toscana:
Em tempos remotos, quando os reis casavam com simples pastoras, havia n'uma pequena povoação da Toscana uma casa habitada por tres irmãs que pobremente viviam da tecelagem. Uma tarde, passando o rei proximo da modesta habitação, e ouvindo dentro animada conversação, quedou-se a escutar.
«Todo o meu desejo, dizia uma das irmãs, era casar com o padeiro do rei. Teria ao menos pão magnifico e tanto quanto desejasse.
«Pois eu, replicou outra, preferia antes casar com o cosinheiro. Então o que me havia de regalar de comer bons petiscos.
A mais nova das tres, formosa a mais não ser, disse suspirando:
«As minhas aspirações são mais altas. Só me contentava casando com o rei a quem havia de dar tres filhos lindos como o sol e com cabellos de oiro e dentes de prata».
O rei, de regresso ao palacio, fez chamar as tres irmãs, e satisfez as aspirações de todas ellas, realisando-se em poucos dias os tres casamentos.
As irmãs mais velhas, ao verem a fortuna e felicidade da mais nova, encheram-se de inveja e juraram desde logo a sua perda.
Um anno depois a rainha tinha um filho. Era uma soberba creança de cabellos do mais puro ouro e dentes de uma alvura deslumbrante. As irmãs, esconderam porém a creança e fizeram crêr ao rei que o que nascera fôra um gato morto.
No segundo anno de casada a rainha teve novo filho, tão seductor como o primeiro.
As irmãs disseram ao rei que o que ella dera á luz fôra apenas um informe pedaço de pau.
No terceiro anno nasceu terceiro rapaz, lindo como os amores, porém as irmãs capacitaram o rei de que fôra uma serpente o que a irmã tivera.
O rei furioso, com a cabeça perdida, fez encerrar a esposa em medonha prisão a regimen de pão e agua.
Obtido isto, as duas irmãs, que até então tinham tido as creanças escondidas para o que désse e viesse, deitaram-as ao mar dentro de um pequeno bote.
O jardineiro do rei andando a passear na praia vê o bote fluctuando ao sabôr das aguas e indo apanhal-o depara com as tres creanças, que compassivamente recolhe.
Com o tempo o pae adoptivo ensina-lhes o officio e fez d'ellas tres notaveis jardineiros, que tinham os jardins reaes, como até então nunca se vira.
Uma tarde, merendavam os rapazes á sombra de uma copada arvore quando appareceu uma andrajosa velha, que lhes pediu uma esmola. Repartiram com ella da merenda, e, finda a refeição, a velha disse-lhe que os jardins estavam um primor reunindo tudo quanto havia de raro, faltando-lhe só, para serem uma maravilha, a agua que dansa, a arvore que toca e a ave que falla.
Os rapazes enthusiasmados, sob indicação da velha, partem á busca dos tres prodigios.
No caminho encontram o rei que ia á caça para se distrahir, e que simpathisa tanto com os rapazes que se queda esquecido a conversar com elles, abraçando-os e beijando-os ao separar-se. Mais adeante apparece-lhes a velha que lhes indica como devem encontrar a agua que dansa, o que elles afinal obtéem, continuando o caminho á busca da arvore que toca. Debalde a procuraram e já iam para regressar desanimados, quando a velha, surgindo, lhe diz onde a poderão encontrar e que basta trazer d'ella uma folha, a qual, plantada no jardim, dará uma arvore corpulenta, que fará ouvir doces melodias estranhas.
Na arvore que toca acharam tambem empoleirada a ave que falla. Recolheram jubilosos ao palacio e plantaram a folha que logo no dia seguinte appareceu transformada em enorme arvore, que fazia a delicia dos visitantes com as musicas divinaes, nunca até então executadas por humana orchestra.
O rei, ao saber do facto, correu a vêr a maravilha, e os tres rapazes, sob indicação da velha, brindaram-o com o melhor melão dos produzidos por um extenso meloal que cultivavam. O rei quiz servir-se logo do fructo, e ao partil-o encontrou-o, em vez de sementes, cheio de pedras preciosas.
—Como póde ser dar um melão pedras preciosas?
—E como póde ser, respondeu a ave que falla, que estava pousada na arvore que toca, uma mulher parir um gato morto, um pedaço de madeira e uma cobra. Estas creanças são teus filhos, e tu foste enganado pelas tuas cunhadas, castigando a esposa innocente.
Fez-se então a luz no espirito do rei que, arrependido, mandou soltar a esposa, implorando-lhe humildemente perdão, e enchendo-a de mimos e prendas riquissimas.
Ás más cunhadas, a essas, para exemplo futuro, fel-as queimar na principal praça publica do reino.
Pela forte adherencia ás paredes e arvores com que está em contacto, é a hera simbolo do amor concupiscente, do amor ardente, pois faz seccar a arvore a que se une, como o delirio amoroso esmaga o coração onde uma vez dominou.
A semelhança da hera com a vinha, o serem ambas plantas trepadoras fez com que os antigos acreditassem que a hera tinha a particularidade de atenuar os effeitos do vinho. Para isso os bebedores enfeitavam-se com corôas de hera, ornamentando tambem com ellas as estatuas e o thyrso de Baccho.
Antigamente usava-se á porta das tabernas ramos de hera ou de carvalho. Os dois vegetaes tinham n'aquelles locaes, a mesma identica significação; recordavam o amor, a voluptuosidade, a força e a alegria que o vinho dá áquelles que o bebem.
É a hera tambem simbolo da ambição por subir mais alto que todas as outras plantas, aproveitando tudo o que a póde ajudar a subir, e terminando por aniquilar e deitar por terra o que lhe serviu de apoio.
Na Allemanha, ainda hoje, entre as classes populares existe a crença de que quem trouxer uma corôa de hera na cabeça, tem o entendimento mais lucido e gosa da propriedade de descobrir as feiticerias.
Segundo a mythologia, um filho de Baccho, por nome Kisso, indo a dançar deante do carro triumphal do pae cahiu por terra, e as rodas do vehiculo passando-lhe por cima mataram-o. A deusa Cybele compadecida do triste fim do infeliz moço, transformou-o em hera.
A figueira é uma das arvores que mais figura na legenda biblica.
É com as folhas d'esta arvore que Adão e Eva, após o peccado original, cobrem a nudez que desde então começara a envergonhal-os, e é tambem n'esta arvore maldita que, segundo alguns auctores, Judas se enforcou após a venda do divino Mestre!
É antiquissimo o caracter diabolico da figueira, a arvore onde se acoutavam os demonios e os mais horrendos e maleficos monstros.
Os doutores mahometanos dizem que foi o figo o fructo que Deus prohibiu que Adão e Eva comessem, por excitar os sentidos, e logo que elles transgrediram a ordem, conheceram a nudez, cobrindo-se com as folhas da mesma arvore que os fizera peccar.
Adão, vendo-se velhissimo, com 900 annos, mas, cheio de vigor e saude, gabou-se deante de Deus de ser forte e immortal. Deus para lhe castigar o orgulho paralisou-lhe os membros inferiores, fez-lhe cahir os dentes e tirou-lhe a luz dos olhos, dizendo-lhe que eram os signaes precursores da morte. Adão não quiz acreditar na palavra do Senhor e mandou o filho mais velho ao Paraizo buscar um fructo da arvore da vida, afim de recuperar as forças perdidas. O filho em vez do fructo trouxe a vara com que Adão foi expulso do Paraizo. Adão partiu-a em tres pedaços que plantou no sólo, mas logo que as arvores nasceram Adão morreu.
As arvores nascidas da vara plantada por Adão foram a oliveira, o cedro e o cipreste. Desta ultima é que depois sahiu a madeira com que fabricaram a cruz em que Christo morreu.
O alecrim é uma planta funeraria. Os antigos acreditavam que o aroma do alecrim conservava os cadaveres, e sob esta crença, queimavam nas ceremonias funebres quantidades enormes d'esta planta aromatica.
No norte, os que acompanham os mortos á ultima morada, levam comsigo um ramo de alecrim por ser em virtude da folhagem sempre verde simbolo da immortalidade.
Os romanos ornamentavam os Lares com alecrim e empregavam-o como meio de purificação após as festas phallicas, crendo que elle tinha a propriedade de dar uma mocidade eterna.
Em algumas provincias de França é vulgar a crença de que as flores de alecrim em contacto com o corpo dão a alegria e felicidade a quem as traz. Para os cretenses é simbolo da sinceridade.
Dizem que foi sobre elle que a Virgem Maria estendeu a seccar as primeiras roupas que vestiu a Jesus.
Na Andaluzia é tambem o alecrim muito estimado, pelo motivo de ter escondido a Virgem quando com o divino filho fugia á perseguição dos soldados de Herodes.
Na Sicilia corre que é no alecrim que se escondem as fadas disfarçadas em serpentes.
É tambem originaria d'aquelle pittoresco recanto d'Italia a seguinte lenda relativa ao alecrim:
—Uma rainha esteril tanto contemplou os numerosos ramos e as verdes folhas de um copado alecrim que concebeu d'elle, tendo um pequenino alecrim, que plantou em luxuoso vaso regando-o quatro vezes ao dia com leite. Um sobrinho da rainha, intrigado com o caso, roubou o vaso e conservou a planta, regando-a com leite de cabra. Um dia, que estava tocando deliciosamente flauta, viu sahir do centro do alecrim uma formosa princesa, de quem ficou logo apaixonado.
Obrigado, porém, a partir para a guerra, recommendou instantemente a planta ao jardineiro do palacio, para que olhasse por ella com todo o cuidado. As irmãs do principe encontrando a flauta foram tocar para junto do vaso, e vendo sahir do alecrim a formosa princeza, ficaram tão cheias de inveja que a agarraram e desapiedadamente a moeram com pancada. A princeza desappareceu e o alecrim começou logo a murchar. O jardineiro escondeu-se para fugir ao castigo que receava, mas indo uma noite inexperadamente a casa, vê a mulher em colloquio intimo com um dragão, que lhe dizia que no alecrim estava encantada uma princeza, que morreria com a planta, se esta não fosse regada com gordura humana.
O jardineiro, então, entra de improviso, mata o dragão e a esposa culpada, derrete-os e com a gordura rega o alecrim. O encanto foi desfeito e a princeza readquiriu a liberdade e a saude desposando pouco depois o principe, a quem amava.
O feto Aspidium filix max representa um papel importante nas lendas das fadas. É com o feto macho que ellas fazem os seus mais importantes maleficios, servindo-se tambem d'esta planta para adevinhar o futuro. Diz a lenda que o feto macho só dá flôr na noite de S. João, e que aquelle que poder colher a flôr d'esta preciosa criptogamica tem a particularidade de adevinhar o futuro e descobrir todos os thesouros occultos.
Segundo uma lenda Russiana um pastor perdeu uns bois na vespera de S. João. Debalde os procurou, e recolhia a casa, chorando e lastimando a sua desgraça, quando ao passar perto de um feto—era meia noute exacta—a flôr d'este lhe cahiu dentro de um dos sapatos. Viu logo onde estavam os bois com os quaes se encaminhou para casa. Na estrada porém descobre um opulento thesouro, montões de joias e pedrarias que o deixaram deslumbrado. Corre a chamar a mulher para o auxiliar no transporte d'aquellas riquezas. A mulher vendo-lhe os sapatos todos molhados e enlameados aconselha-o, por inspiração do demonio, a mudal-os por outros seccos. O homem attende-a, tira os sapatos, a flôr de feto cáe no chão e elle immediatamente esquece tudo.
Myrrha—conta a fabula—apaixonou-se pelo pae, o rei Cyniras, de quem teve Adonis, avô de Priapo.
Envergonhada porém, do repellente incesto que praticara, rogou aos deuses que a transformassem em coisa que não fosse viva nem morta. Estes então transformaram-a no arbusto que produz a Myrrha.
Uma lenda muito espalhada na Allemanha, narra que estando uma vez a Virgem a amamentar o seu divino filho, sentada n'umas pedras, ao erguer-se, cahiu-lhe uma gotta de leite na rocha, gotta de que logo nasceu o Polypodio vulgar. É em recordação d'este facto memoravel que os allemães dão a este feto o nome de Unser Frauenmilck, isto é, Leite de Nossa Senhora.
Entre nós é o Polypodio conhecido pelos nomes vulgares de: Feto centopeia, Riços, Feto dos carvalhos, Feto doce, etc.
Quando a Virgem fugia com o filho á violenta perseguição dos seus inimigos, chegou junto de um espesso bosque de espinheiros, que lhe abriu passagem, fechando-se depois á chegada dos soldados romanos.
A Virgem abençoou então os espinheiros que se compadeceram da sua dôr e, Christo, fallando pela primeira vez, disse que em memoria d'aquelle facto, a corôa com que o adornariam no dia do martirio, havia de ser de espinheiro. E assim foi, pois a corôa que os judeus, para o ridicularisar, lhe forneceram, era d'aquelle vegetal.
Conta mais a lenda que um pisco, vendo que os espinhos do espinheiro feriam a fronte do Salvador, veio pousar-lhe na cabeça e com o bico os quebrou um a um. Molhando n'essa occasião o peito no sangue de Christo, ficou a ave, para sempre, com aquella sagrada mancha, recordação eterna do caridoso acto que praticara.
É a videira uma das plantas mais celebradas pelos antigos. A sua cultura desenvolveu-se outr'ora muito na Grecia, Persia e Asia menor.
Era com pampanos que se enfeitavam Baccho, as Bacchantes, Silene, Rhea, Bona Dea, as Graças, a deusa Lætitia, etc. Narra a Biblia que Noé se dedicou cuidadosamente á sua cultura, sendo o primeiro mortal que fabricou vinho da uva.
Diz Santo Ambrosio, referindo-se á enorme embriaguez que a primeira absorpção do liquido extrahido da uva produziu em Noé, que não foram bastantes todas as aguas do diluvio para fazerem com que Noé ficasse nú, mas que o vinho o fez ficar fóra de si, sem juizo e vergonhosamente decomposto.
O philosopho Anacarsis tratando da videira relata que este vegetal tem tres varas, a primeira das quaes produz gosto, a segunda delirio e a terceira a loucura.
Para a mytologia a videira nasceu do sangue dos Gigantes, derramado na terra, quando, dementados, pretenderam escalar o ceu. É por isto que o vinho tem a propriedade de causar furor, uma enorme excitação a quem o bebe em demazia.
Uma lenda arabe conta que o diabo regou o primeiro pé de videira com o sangue do macaco, do tigre e do porco.
Por isso ao primeiro vinho bebido, o homem fica alegre, agitado, bulhento e brincalhão como o macaco; continuando a beber a alegria transforma-se em violentas arremetidas de tigre, para por ultimo, cahir, roncando, no somno bestialisador do porco.
Segundo os Persas foi uma mulher no feliz reinado de Djemschid, que, querendo matar-se, bebeu o succo das uvas, pensando ser veneno. O somno que elle e causou, foi porém tão agradavel que continuou depois a fazer vinho e a bebel-o, espalhando-se em breve o uso por todo o paiz.
O mitho hellenico sintethisa a vinha n'um companheiro e amigo de Baccho, no pastor Staphylo. Staphylo era um pastor do rei da Grecia Oenêo, que reparando que uma cabra do rebanho, a mais gorda e bem tratada de todas, recolhia sempre mais tarde que as outras, e não comia nunca do alimento fornecido ao resto do rebanho, a seguiu, indo ter a um bosque espesso, onde a viu a comer soffregamente uvas, fructo até então completamente desconhecido. Staphylo colheu grande porção de cachos com que brindou o rei Oenêo o qual fez d'elles vinho. Em recordação d'este facto, deram depois os gregos o nome de Oinos, ao saboroso licôr das uvas.
Apollo apaixonando-se doidamente por Daphne, filha do rei Penêo, moveu-lhe uma tão intensa perseguição, que esta, para lhe poder fugir, conseguiu que os deuses a transformassem em loureiro.
Apollo quiz que o loureiro lhe fosse consagrado tecendo com elle uma corôa, que, depois, sempre trouxe comsigo; significava a referida corôa, que se a donzella não lhe pertenceu em vida, possuia porém o vegetal em que fôra transformada.
Baccho, em seguida ás gloriosas victorias na India adornou-se com o louro, e Esculapio fez o mesmo depois das maravilhosas curas que realisou e que lhe deram fama eterna.
Os romanos adoptaram o louro como simbolo da victoria.
Os vegetaes a que se referem as lendas publicadas no presente volume, não estão por ordem scientifica, nem mesmo alphabetica, por isso que o livro foi impresso á medida que o auctor colleccionou as lendas que o compõem.
Para remediar em parte esta falta, foi o indice organizado alphabeticamente.
Foram corrigidos alguns erros tipográficos óbvios.
Para facilitar a navegação, nesta versão html o índice foi duplicado no inicio do texto.
End of the Project Gutenberg EBook of Lendas dos Vegetaes, by Eduardo Henrique Vieira Coelho de Sequeira *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LENDAS DOS VEGETAES *** ***** This file should be named 27412-h.htm or 27412-h.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: http://www.gutenberg.org/2/7/4/1/27412/ Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search) Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. 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INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance with this agreement, and any volunteers associated with the production, promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, that arise directly or indirectly from any of the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of electronic works in formats readable by the widest variety of computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation web page at http://www.pglaf.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at http://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at http://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. To SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state visit http://pglaf.org While we cannot and do not solicit contributions from states where we have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition against accepting unsolicited donations from donors in such states who approach us with offers to donate. International donations are gratefully accepted, but we cannot make any statements concerning tax treatment of donations received from outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation methods and addresses. Donations are accepted in a number of other ways including checks, online payments and credit card donations. To donate, please visit: http://pglaf.org/donate Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic works. Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm concept of a library of electronic works that could be freely shared with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper edition. Most people start at our Web site which has the main PG search facility: http://www.gutenberg.org This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, including how to make donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.